sexta-feira, 24 de abril de 2020

(Quase) o mais belo dos lugares



Não sei se foi intencional, acho que não, não eras grande educador, muito menos um pai convencional. Mas sei que foste tu, que foi contigo que aprendi a amar os livros. 

Ao contrário de ti, que me ensinaste a amar os livros só pelo facto de os amares, eu esforço-me por fazer com que os meus estudantes gostem deles, ao contrário de ti, sei que apenas serei parcialmente bem sucedida. Nos dias bons, essa parte fará de mim uma pessoa feliz, nos dias menos bons sentirei que falhei e que fiquei muito aquém da pessoa que podia ter sido. Mas de qualquer forma fui melhor a fazer amar os livros do que a produzi-los por mim própria, a dar-lhes vida e a colocá-los cá fora, essa foi uma vida pela qual não me esforcei o suficiente e há muito que sei que não será a minha. 

Se algum dia o fizer, coisa de que já duvido, será uma espécie de livro único para cumprir, dos três desejos, apenas o que ficou por realizar. Apenas para o cheirar, para deixar como herança à família, para fazer uma festa com beberete, poemas e canções, um mero gesto egocêntrico do qual terei alguma vergonha. E para o ver existir numa livraria, mesmo que por pouco tempo, nesse que é quase o mais belo dos lugares do mundo, não houvesse o campo, o mar e o céu.

~CC~


11 comentários:

  1. Também tive assim, em casa, alguém que gostava de ler. Mas lia pouco. Ler foi um dos deslumbramentos da minha infância, mesmo que não houvesse alguém como exemplo, gostaria sempre de o fazer, teria o mesmo amor ao que está escrito. Tentei isso sim, passá-lo a meus filhos e fui medianamente bem sucedida. A meus alunos, não sei bem o que passei. É verdade que lhes falava de livros, mas falava-lhes de tanta coisa.E o que cada um toma do que dizemos e de nós como um todo, diferencia-se da pretensão.
    Se fosse outra pessoa, numa vida diversa, quem sabe teria escrito livros e feito outras coisas. Minha mãe e meu tio, também. Tanta gente que também. Mas uma festa por escrever um livro acho esquisito:).
    Porém, a CC é outra pessoa, talvez goste da ideia e possa realizá-la. Experimente. Força.
    Há bibliotecas muito bonitas, sim. Mas não as encontro assim um lugar extraordinário. Sou uma leitora comum e nunca fui ratinho de biblioteca. Para mim são o lugar dos livros e poder requisitá-los, isso sim, é-me muito agradável.
    Bom dia, CC

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    1. Bea, há bibliotecas mesmo muito bonitas e em Portugal...e quanto eu queria conhecer algumas que fazem a história do mundo. Quando eu morava em Lisboa, passar uma manhã numa livraria era uma espécie de passatempo, lia um bocadinho de um, um bocadinho de outro (muita poesia) e raramente comprava porque o dinheiro era pouco. E não tinha disciplina suficiente para as bibliotecas, requisitar, ter x dias para ler, ir lá entregar...
      Boa tarde, Bea.

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  2. Bom dia:- jÁ PLANTEI UMA ÁRVORE, FIZ UMA FILHA, ESCREVI UM LIVRO. sÓ ME RESTA SER RICO.
    .
    Tenha um dia feliz

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    1. Ser rica por o ser não me interessa, mas há umas quantas coisas giras que gostava de fazer com o dinheiro, uma delas é justamente uma livraria/café/casa de pequenos espectáculos.
      ~CC~

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  3. É sempre tempo de cumprir esse sonho, ~CC~.
    Quando ele sair, já tem aqui uma compradora :))

    Abracinho
    🌻

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    1. Oh querida Maria, convidada para a festa desde já:)
      ~CC~

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  4. Viu o filme A Livraria (The Bookshop)? Eu já tinha cá o livro há uns anos, mas gostei mais do filme.
    Passa-se num local onde não me importaria nada, mesmo nada, de viver. E embora seja uma história triste, tem momentos muito belos.
    🌻

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    1. Achei uma boa história a do filme. É apenas uma boa história.Realista.

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    2. Não vi...será que o apanho por aí?
      ~CC~

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  5. Sim, Bea, uma boa história, adaptada de um belo livro de 1978 (shortlisted do Booker Prize) embora a Penelope Fitzgerald tenha vencido o prémio mais tarde com outro livro.
    Eu li A Livraria em 2011, altura em que comecei com a mania de ler obras dos vencedores do Man Booker.
    Assim que saíu o DVD comprei-o logo e adorei reviver aquela história.
    Num filme uma boa história é importante para mim, mas também o são os actores e o realizador.
    A Catalã Isabel Coixet fez um excelente trabalho (aliás premiado com 3 Goyas) e a Emily Mortimer, o Bill Nighy e todos os secundários conseguiram comover-me.
    E é só isso que eu peço a um filme: chegar ao fim, ter vontade de fazer rewind e voltar a vê-lo. :))

    E agora para a ~CC~:
    Ainda vai muito a tempo de escrever o seu livro. Esta autora publicou o primeiro romance aos sessenta anos. Diz aqui no livro que morreu em Abril de 2000, aos 83 anos.
    Portanto, mãos à obra!

    Abracinhos para ambas.
    🌻🌻

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    1. Cheguei a pensar que este comentário não tinha seguido (ando com a cabeça à nora...).
      Eu encomendei o filme à Fnac (sou daquelas patós que não sabe sacar filmes da net - e também que graça teria vê-lo no smart?).
      Às vezes espero pelas promoções, mas este foi caro, foi comprado logo que saíu.

      Há uns anos comprei um filme que considero dos mais belos que já vi e alguma vez verei: Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera (Kim Ki-Duk, 2003).
      Encomendei, esperei, desesperei, lá chegou: caro, com portes, mas achei que valeu muito a pena :))
      Há dias, no Jumbo, vi uns 30 dvd desse filme a 1€ :(
      Apeteceu-me comprar todos e oferecer a toda a gente que encontrasse... comprei apenas um, a pensar num amigo... que talvez nem vá gostar.
      Talvez este filme que eu adorei seja uma seca para a maioria das pessoas.
      Por isso, ~CC~, talvez os meus entusiasmos cinematográficos não sejam para levar a sério :))

      Beijinho.
      🐳

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