quarta-feira, 30 de setembro de 2015

É a semana da dor



Inventámos uma semana de acolhimento na esperança de que isso os desmotivasse a denominar como tal as praxes. Nada de mais ilusório, foi mesmo esse o nome que eles deram à "sua semana". Estes dias são negros para mim, desta vez e porque me é tão doloroso, evitei o mais que pude ir à escola. De nada adianta ameaçar que terão falta às aulas, eles não vão lá na mesma. Esta manhã cheirava a cebola podre por todo o campus, acho que isso diz tudo.

Na verdade, a minha dor começou no dia em que organizei uma visita com os novos estudantes à cidade e os levei a ver uma das minhas vistas preferidas do estuário, eles subiram primeiro que eu no elevador e quanto cheguei verifiquei que estavam sentados de costas para a paisagem.

~CC~

sábado, 26 de setembro de 2015

Há quem faça seus os meus sonhos



Tenho uma enorme paixão pelas escolas antigas de plano centenário, essas que têm fechado nas aldeias de todo o país. Comecei a minha vida profissional numa delas. O seu fecho não costuma ser um sinal de vida e preocupa-me que fiquem ao abandono lugares que um dia se encheram de brincadeira, de riso, talvez de alguma dor e humilhação também, se nos lembrarmos de quem nelas andava no Estado Novo. Há muito que quero fazer algumas coisa e desenho projectos para estas escolas. Felizmente enquanto eu sonho ou faço tentativas pouco persistentes, há quem consiga. Coloquei esta escola no mapa dos meus roteiros, cuja primeira imagem vi, pasme-se, num blogue de culinária. 

E prometi a mim própria ir ver como tinham transformado uma escola numa casa de campo com suites com ar nórdico. Tudo é ainda mais bonito do que tinha imaginado, conseguiram deixar tudo como estava por fora e modificar totalmente e com enorme bom gosto por dentro. Deve ter sabido como detesto cortinas de casa de banho e vidros de toda a espécie, pelo que por um mero truque arquitectónico não havia nem uma coisa, nem a outra. Não fotografei e tenho pena, mas talvez a ausência de imagem vos aguce a curiosidade.

Nada me liga ao casal que construiu o projecto, faço-lhes publicidade porque é justo fazê-la, porque me parecem ter arriscado e investido numa coisa que é muito mais do que um negócio. À chegada tivemos direito a um maravilhoso e original sumo de fruta, no resto do tempo souberam estar naquela distância simpática de quem não incomoda mas está presente. E apresentaram-nos à cadela e aos gatos, a Rosinha acompanhou-nos no passeio como se sempre nos tivesse conhecido. Às vezes o mundo vale a pena. E Cabeça de Cabra tem vista para o mar, quase se avista a ilha do pessegueiro.

http://cabecadacabra.com/



sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Nós ao espelho



Por dentro a minha energia é mais ou menos sempre a de um pássaro pronto a levantar voo, talvez a velocidade do looping seja diferente e apeteça mais planar. Olhamos ao espelho e vemos as mudanças mas não acreditamos plenamente nelas e custa pronunciar a idade que temos, parece-nos inacreditável não termos parado entre os trinta e os quarenta. Não serei como a minha mãe que diz que só começou a ter rugas a partir dos oitenta mas custa-me a aceitar ter a idade que tenho.

No entanto, penso se queria voltar a alguma outra idade da minha vida, não creio que os 30/40 tenham sido um mar de rosas, creio que só do ponto de vista físico terá sido mais plena, no mais pode ser e foi tão tormentosa quanto qualquer outra. Ontem um bebé chorou noite dentro e lembrei-me dessa sensação de não dormir um ano inteiro. O que me entristece é mais a consciência de que não há envelhecimento sem degradação física e não sendo eu uma adepta dessa nova quimera da moda chamada envelhecimento activo, gostaria de aceitar o modo como o meu corpo vai mudando e o meu rosto também, sem que ao mesmo tempo isso signifique uma entrega aos sinais menos positivos que o corpo dá. Porque em breve farei mais um ano, porque estou numa nova fase da vida, vivendo agora sozinha praticamente durante toda a semana, porque quero que este ano não seja tão árduo como o que passou, porque quero ter mais tempo para mim própria, penso em pequenas mudanças que posso fazer. Nada que me faça procurar esses profissionais da desorientação moderna, nessa nova especialidade denominada coaching. Eu hei-de saber resolver-me.


Ao espelho e com muita companhia :)


terça-feira, 15 de setembro de 2015

Tanto que (me) custa



Um dia cinzento de Setembro é capaz de me impor uma tristeza difícil de contornar, assinalo com bolinhas negras os pontos críticos e por ora não me apetece mudar-lhes a cor

- A moça foi viver para Lisboa, não é este ou o dia anterior que importam, mas o resto dos dias em que não virá jantar

- As reuniões na escola são conturbadas ou estranhamente rápidas e muito pacíficas, quase ninguém parece verdadeiramente importar-se com o rumo dos acontecimentos, a maior parte de nós precisava de mais tempo para ganhar saudades, (re)começar custa-nos. 

- Escreve-me uma formanda (já professora) a protestar porque não lhe atribuí excelente mas muito bom, pasmo com os argumentos porque não os usam com os próprios alunos, sublinha ela a participação e assuiduidade em detrimento dos produtos que foram objecto de avaliação, acho que de ora em diante os testes não deviam contar mais para nada... Na resposta, diz que eles conhecem o trabalho uns dos outros e eu não...pois não, eu só fiz a acção de formação, era isso que estava em questão. Será que conhecem assim tão bem o trabalho uns dos outros ou construíram estereótipos uns sobre os outros? 

-´É feriado na minha cidade e estou em casa a trabalhar o mais que posso, já deixei as coisas acumularem-se, para variar...

- Saí de casa para comprar tâmaras e bacon para fazer uma entrada para completar o piquenique que iremos fazer para acolher os novos estudantes. Voltei sem as tâmaras e sem o bacon e trouxe uma data de coisas de que não precisava mesmo.

E não me venham com a psicologia positiva e o copo meio cheio em vez de meio vazio, se querem fazer alguma coisa de jeito, peçam que chova a sério e depois chamem o sol. 

~CC~


quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Como definir Setembro?



Setembro é aquele mês em que os gatos, escondidos debaixo dos carros, tanto podem estar a proteger-se do frio como a esconder-se do calor.

É também o mês em que eu nasci, um pouco mais lá para a frente. Nasci eu e mais uma data de gente, quase todos virginianos insuportáveis como eu, ou devo dizer gente quase sempre insatisfeita que às vezes é feliz.

~CC~

domingo, 6 de setembro de 2015

Boas notícias que ainda assim me deixam a pensar...



Há quem ache que não vale a pena estudar no ensino superior, alegando que o desemprego é o fim do caminho de um licenciado. É verdade que aumentou o número de licenciados desempregados, contudo, esse número, se comparado percentualmente, é inferior ao dos não licenciados. Permanecem, em geral, menos tempo no desemprego ou empregos indiferenciados e mal pagos, o que não quer dizer que não os tenham, ou que alguns não fiquem lá. Vejo com bons olhos que todos estudem, independentemente do tipo de curso que tiram, só num estado dirigista e autocrático, essas escolhas se devem condicionar ou moldar de acordo com obscuros e falíveis interesses do mercado. E em Portugal isso já acontece, fecham os cursos com menos de 10 candidatos durante três anos seguidos. Se mesmo esta medida pode ser questionável, dada a singularidade de algumas formações, mais do que isto parece-me perigoso, embora se esteja a anunciar. O valor da formação não está apenas no caminho que proporciona em direcção a um emprego, há mais e esse mais é difícil de medir, trata-se de uma transformação que se vê num conjunto de competências que passam pela comunicação, consciência, cultura. 

Os números que apontam para uma subida de alunos no ensino superior deviam assim deixar-me feliz (até porque trabalho lá), no entanto, olhados com alguma atenção, espantam. Sabemos que a natalidade não aumentou, que não há mais gente a estudar no secundário e que as condições de vida das famílias não melhoraram de um ano para o outro, de forma a que aqueles que não podiam estudar, o possam fazer agora (aposto que o governo ainda vai explorar este filão). O que me parece estar a acontecer é que a retenção no ensino secundário por força de exames de extrema dificuldade se atenuou. Talvez o ministro recuse a ideia de que este ano os exames foram fáceis mas os dados não mentem, trata-se de subidas significativas, de um a dois valores em provas decisivas. Houve mais alunos a conseguir concluir o ensino secundário e logo em condições de candidatura ao ensino superior. Há assim que interrogar as coisas, indagar em vez de simplesmente nos congratularmos. Para mim é grave que os exames possam condicionar as coisas deste modo, não invalidando o exame como forma de controlar as grandes diferenças que possam existir na atribuição das notas entre instituições de ensino. Por outro lado, mesmo que pareça teoria da conspiração, não deixa de ser estranho que os exames tenham sido mais fáceis em ano de eleições. As boas notícias para o governo são óptimas antes do voto. 

~CC~


NOTA: Independentemente das minhas questões e por lhe reconhecer o mérito e o esforço, estou muito feliz porque a minha filha entrou em Medicina, na instituição que era a sua primeira opção.


terça-feira, 1 de setembro de 2015

Férias - o melhor e o pior


O melhor

1. Os banhos de mar, mesmo com água fria. Conseguir voltar ao mar com menos medo, menos ansiedade, nadar um bocadinho para fora de pé. Aquela praia com pinheiros onde o carro fica quase sempre à sombra. 

2. A salada de morangos, espargos e queijo fresco que comia em frente à Ria Formosa, devagar, saboreando, a fazer tempo para ficar menos quente o sol. Melhor sempre que a filha estava lá e podíamos partilhar os petiscos.

3. A companhia no festival bons sons, esse fim de semana, especialmente o jantar em Tomar, junto ao rio, quando começou a chover em pleno Agosto e chegou aquele cheiro a terra molhada. Sabermos coisas uns dos outros, apesar de nos conhecermos há tanto tempo.

4. Os gins no quintalinho, preparados por ti com tanto cuidado, quase sempre com dois dedos de (boa) conversa.

5. Os fins de tarde na Galé, quando nos sentávamos sem pressa de coisa nenhuma, às vezes íamos ver o mar, nunca conseguimos apanhar o pôr do sol mas mesmo assim era bom.

6. O livro Galveias de José Luís Peixoto, o melhor dele desde "Morreste-me". 

7. Duas peças no Festival Internacional de Teatro de Setúbal: Quem me dera ser onda e Armazém 33. A primeira é a adaptação daquele que já era um dos livros da minha vida, excepcionalmente conduzida por uma actriz brilhante, sozinha ela faz todas as personagens do livro. Armazém 33 é pleno de frescura, de humor, de imaginação. 

8. O primeiro volume da trilogia Mil e uma noites, filme de Miguel Gomes. Delirante, irónico, surreal, o maior manifesto político contra o capitalismo selvagem que grassa pelos nossos dias.

O pior

1. Certos fins de tarde em que a angústia chega vinda de dentro das sombras que moram em mim.

2. Certos momentos em que a solidão não foi boa, em que sentir-me sozinha não combinou com liberdade e amor próprio.

3. Não ter conhecido nenhum lugar novo, fosse em Portugal ou no Estrangeiro, acordar num lugar e sentir que o dia será preenchido por o conhecer.

4. As notícias de Portugal e do mundo, nada que nos alegre, entusiasme ou faça vibrar. Demasiados acidentes, demasiados incêndios, demasiados cartazes imbecis,  entre outros...

5. Voltar a sentir, por vezes, que os portugueses são menos bem vindos no Algarve do que os estrangeiros.

E não sei como classificar isto: nenhuma vontade de trabalhar, nenhuma vontade de voltar ao trabalho. Como se tivesse perdido o jeito, o pé...espero que o entusiasmo volte, nem que seja devagarinho.

~CC~