quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Bem vindo sejas 2022

 

Será que a Paz começa quando acabam os desejos de ano novo e a antevisão das passas nos enjoa? Ou será que começa aí o desespero, o pessimismo e os nosso passos vagarosos para a morte? 

É a arte de desejar a da paixão que nos move e estimula ou é tão somente ambição desmesurada por um quinhão de felicidade à nossa medida, sinal do egoísmo que a todos corre por dentro? E quando os viramos para o mundo, somos realmente sinceros? Quantas partes de nós estão dispostas a correr por essas metas?

Ou os desejos são as metas que estabelecemos de nós para nós, nesse contrato perigoso em que a fasquia é sempre mais elevada do que aquilo que podemos realmente conseguir? Mas não terá que ser ser sempre assim, quem deseja o que pode alcançar facilmente?

Equaciono três para o meu umbigo:

- Saber desafiar-me e não estagnar, sem correr demasiados riscos nem fazer demasiados sacrifícios.

- Sentir-me amada.

- Manter-me saudável.

Equaciono outros três para todos os umbigos (sim, estou a ver os vossos...)

- Voltar à normalidade, fim da Pandemia

- Passos mais decisivos para a protecção do Planeta.

- Fim do regime Talibã no Afeganistão, se possível, feito pelos próprios afegãos resistentes. Sei que há outros regimes políticos igualmente incumpridores dos mais elementares Direitos Humanos, mas deixem-me reagir ao choque que este me provocou.

Três é um numero de que gosto.

 2022 tem uma certa magia nos números redondinhos, oxalá se cumpra, para todos vós que passam, mesmo que em silêncio, aquele abraço.

~CC~




segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Pudim de laranja (II)

 

Foi a mana mais nova a fazê-lo e não fora a calda de açúcar ter ficado tão pálida, tinha ficado perfeito. Não que eu o adore, como apenas um pouquinho para saber que é Natal. 

Faltaram, contudo, as filhoses com a receita dela, as únicas que como e gosto mesmo. Falta-me a força para as amassar, a paciência para as fritar, a companhia para brincar com a massa, a alegria de as fazermos em conjunto. É assim que as coisas se perdem, alguém sugere comprar, alguém deixa de estar, alguém sente-se incapaz. Esta é uma pequena parte triste, as outras não o foram. A mesa voltou a ser grande, até o nosso rapaz que testou positivo recuperou a tempo.

Ganhei uma almofada de sumaúma, igual a que usei toda a minha infância, embora bem maior que a que então usava e para todo o lado transportava. Até sonhei que era novamente aquela miúda completamente inocente e sozinha entre dois irmãos mais velhos. Era triste e alegre, feliz e infeliz, receosa e aventureira. Tantos anos depois e ainda sou a mesma coisa. Só as ruas mudaram. E sorrio com mais rugas.

~CC~





terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Pudim de laranja

 

Este ano podia nem haver Natal, eu nem daria por isso. Há anos em que sinto essa alegria da época, outros em que não. Foram bons os Natais na aldeia. Foram bons os anos em que inventávamos decorações que se completavam só com a chegada da família, tinham que pintar ou escrever ou montar...e das árvores alternativas que imaginávamos e eram parte desse cenário. E isso acontecia na tua casa, apesar de detestares esta comemoração.

Posso recuar a deslumbramos antigos, os dos espectáculos criados com as meninas, preparados com afinco e alinhamento ou a mais anteriores ainda, ao churrasco no quintal da minha infância. O meu coração já vibrou com a festa.

Este ano nada está nas minhas mãos, nem as comidas. E agradeço que assim seja e muito, não me sinto capaz. Este ano apenas me esforço.

Ainda assim, foi hoje ela a salvar-me, como quem me tira do fundo do poço. Ela, sempre a mais velha e, no entanto, que energia menina. Ela e o seu pudim de laranja, a sublinhar o lugar que as coisas devem ter, os patrimónios que a família constrói ano após ano, muito graças a estes encontros, a este em particular. E foi por ela que sempre fiz Natal, mesmo em anos não.

Pudim de laranja, esse que só o Natal traz.  Uma espécie de resgate da inocência perdida  entre anos e anos de incentivo ao consumo (o mar de prendas junto à árvore e a contagem de quem ganhava mais) e agora os testes à Covid e as restrições pandémicas.

A todos os que passam por esta rua desejo que encontrem também o seu sabor doce, qualquer que ele seja.

~CC~



quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Chamamento

 

Cortar o medo pela raiz, um a um. Custa-me tanto removê-los como tê-los. Mas cada vez que ultrapasso um deles a leveza é tanta que julgo poder voar. 

Se vires algo a brilhar lá à frente e quiseres ir atrás, faz isso, por mais que te custe. Tenho poucas certezas mas uma delas é que a minha vida valerá a pena se ainda sentir um chamamento e for capaz de ir.

~CC~



segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

6 de dezembro

 

Foi um dia emocionante aquele de há dez anos atrás.

O que começou por ser uma obrigação para poder ter emprego acabou por ser uma viagem incrível, mesmo que com momentos de dor. A tese lá está num repositório qualquer, não fora saber que ainda a dão a ler no curso de doutoramento e a o convite ano sim, ano não, para falar sobre ela, e acharia que era mais um nado morto a habitar a imensa estante da literatura cinzenta. E a surpresa do prémio, logo para mim que me achei, naquele lugar em específico, sempre a menina da fila de trás.

Como todas as provas de superação, deixou marcas. A primeira a saber que posso efectivamente superar-me, aventurando-me para muito longe daquilo que eram as outras formações que tinha em vez de ir colocar o pé em terra firme. Uma pequena loucura. Outras marcas positivas: a tua ajuda incondicional, foi certamente, na altura, uma prova de amor; as pessoas que vieram junto, uma trupe de gente que ao longo dos anos consolidou a sua amizade, umas mais, outras menos, ocuparam o meu coração numa altura em que achava que já não faria novos amigos. As marcas menos positivas: definitivamente a academia pura e dura no seu sentido mais clássico não é o meu lugar, falta-lhe aventura, arrojo, deslumbramento. 

~CC~

Nota: obrigada por me lembrares.


quinta-feira, 2 de dezembro de 2021

Pergunta difícil

 

As noites mais longas de Inverno são difíceis para os mais velhos, a minha mãe baralha as horas e pensa que já é muito mais tarde, sobra-lhe mais tempo e torna-se mais sombria.

Talvez por isso, no tom zangado que os 93 podem ter, me tenha feito a pergunta: o que faço eu aqui? Para que é que estou neste mundo?

Comecei por lhe responder: é uma pergunta que todos podemos fazer a nós próprios. Não foi resposta que a satisfizesse, filosofia a mais. Aos 93 já não se aceita que as perguntas não tenham resposta.

Então cheguei-me bem perto, olhei para ela e ocorreu-me a resposta: estamos aqui para fazer companhia uns aos outros, é para isso que estamos aqui.

Ficou muito calada, quase pensativa...e disse: é verdade, lá isso é verdade.

Vamos ver até quando a resposta lhe servirá.

~CC~