segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Outono (II)



Dois testes de resiliência.

A despedida dos banhos de mar.

A primeira aula com os estudantes novos, no 1º ano do ensino superior.

Não posso avaliar qual custou mais. São custos talvez diferentes.

Mas um e outro deixaram-me o corpo cansado e a cabeça flutuante.

Uma nota positiva do primeiro: a praia voltou a estar tão tranquila.
Uma nota positiva do segundo: pareceram, no mínimo, curiosos.
Uma nota negativa do primeiro: as despedidas dão-me vontade de chorar.
Uma nota negativa do segundo: nenhuma das perguntas que fizeram era verdadeiramente interessante.

Quando o Outono avançar poderei saber mais e ainda outras coisas.

~CC~


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Outono (I)



O que não gosto no Outono é esta velocidade que parece chegar e invadir-me sem perdão. Não vejo os dias e quando dou por eles já é noite. As tarefas acumulam-se sempre sem parar e há sempre algo em falta. As pessoas comentam como estou mas eu olho-as espantada pois quando o fazem apercebo-me que nem me olhei ao espelho. Esta passagem brusca do fruir do tempo à corrida contra o tempo é esgotante. Hei-de estabilizar, voltar a poder falar comigo.

~CC~

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Crónicas de Verão (X)




Adeus Verão, adeus 54.
Acho sempre estranho nascer com o Outono. Depois recordo-me que não nasci neste continente.

~CC~

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Crónicas de Verão (IX)



Este foi um Verão atípico, passado quase tanto a norte como a sul. Dizem que estava calor antes de vir. Mas assim que chego a temperatura desce e as nuvens chegam, digo-lhes que não pode ser de mim pois eu traria sol, mas não acreditam, dizem que sou mesmo eu, que sem saber carrego a chuva. Ai se assim fosse, eu iria para tantos sítios que precisam de mim. 

A maior tristeza do Verão são as lagoas e os rios quase secos, os campos da cor da terra, o gado a passear com sede. Estas e outras coisas procuramos esquecer nos nossos banhos de mar. Não discordo, não podemos sofrer sempre, mas estou certa que se não sofrermos um bocadinho por causa disto, os desertos ganharão terreno.


~CC~

sábado, 14 de setembro de 2019

Crónicas de Verão (VIII) com dedicatória



Para a Maria das Estevas.
(por si, abro a excepção de publicar fotografias de comida, coisa que não gosto nada, mas só lhe digo, é delicioso, ligeiramente picante).

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Crónicas do Verão (VIII)


Há sempre um dia no Verão em que chove. Este Verão também. Estava em Santiago de Compostela e choveu tanto que tive que ir comprar um guarda chuva, o que fiz no mercado que é especialmente bonito. Gosto dessa água quando chega com calor, lembra-me a infância. Se ela chegar com frio, já não a sinto da mesma forma.

E há também sempre um dia em que tudo corre mal. Em que o teu cansaço embate na minha energia. Em que o teu desconforto por estares longe de casa embate na minha alegria de nada conhecer e estar totalmente perdida. Em que tu paras, não queres ir mais a lado algum. Em que eu quero ir especialmente a um sítio fazer uma coisa que se apossou de mim com uma vontade férrea. Nesse dia costumas ver turistas em todo o lado e pior que tudo costumas sentir-te um turista, para ti não há nada pior. Já eu não costumo importar-me muito, aceito a circunstância de estar numa praça linda cheia de gente que, como eu, a acha linda.

Nesse dia eu queria comer polvo à galega, queria comer do polvo feito na rua, em tendas. Tu querias tudo menos comer o que quer que fosse, quando ficas assim, até o apetite perdes. Andavas a custo atrás de mim e eu tentava não entristecer da tua tristeza. Tanto me apetecia abraçar-te e consolar-te como fugir de ti, como fazem os miúdos que se perdem de propósito das mães.

Há sempre um dia mais triste no Verão, mesmo assim eu esgueiro-me com mais facilidade dessa tristeza, debato-me, faço-lhe frente. Se for Inverno, derroto-me mais facilmente. Sim, é isso que amo mais no Verão, esse borboletear que se apossa de mim, sou facilmente pássaro e flor.


~CC~


quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Crónicas de Verão (VII)



Estou a lutar para manter o Verão dentro de mim. Não está fácil. Nos momentos mais intensos de trabalho passo a língua pelos lábios e tento que me saiba a sal.

~CC~

domingo, 8 de setembro de 2019

Crónicas de Verão (VI)



Tantos anos passaram. 

As meninas são já adultas e outros meninos tomaram o lugar delas. O mais velho e único rapaz já teve filhos, as nossas meninas ainda não. Há tanto tempo que não estávamos juntos aqui. Deixámos passar alguns Verões, há sempre um vai e vem de gente e é raro coincidirmos de férias agora. 

Tudo é igual sendo já tão diferente. O senhor das Bolas de Berlim (sim, que esta praia sempre teve um único vendedor) tem agora no filho um ajudante e não as consumimos à razão de uma por dia, todos os dias. Há tantas algas verdes claras que os nossos corpos e cabelos ficam cheios delas. A água voltou a estar quente como antes, mas as ondas não eram habituais. Registamos e comentamos tudo, o que se mantém, o que mudou, o que nos agrada e o que nos desagrada. Olho-nos e não sei como resistimos a tantas coisas, algumas que nos iam derrubando para sempre. Sinto o coração cheio desta luz de setembro.

Nunca tivemos uma casa de família, um lugar para nos encontramos, o nosso território. Afinal se calhar é esta praia, é aqui o nosso lugar.  Nunca ninguém o irá herdar, a não ser que queira. E passará de geração em geração sem escrituras nem impostos.

~CC~






segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Crónicas da estação quente (V)



Começava Agosto, era o dia primeiro.

E tinha começado quente, abrasando todos aqueles montes sem mar. A cidade sufocava, era aberta ao sol pois os Invernos eram apesar de tudo mais longos e muito frios. 

O relógio batia as quatro da tarde na praça central, a única sombra era a das duas esplanadas, quase cheias. Estavam lá mães, muitas mães, ainda relativamente jovens. Estavam umas poucas avós com netos. Estavam senhoras recém entradas na reforma, bem arranjadas, num encontro entre elas. Numa das mesas também homens, relativamente jovens, não sei se pais pois as crianças não estavam junto deles. E a praça tinham destas fontes modernas que nascem do chão, jorrando água de quando em quando, num jogo de repuxos.

As crianças tinham-se juntado todas junto dos repuxos de água, um grupo delas entre os quatro e os doze anos. Eram já um bando, umas oito, em escadinha. Primeiro elas apenas andavam, cruzando os espaços entre os repuxos, apanhando apenas uns salpicos. Até que a primeira se descalçou. Até que uma outra tirou a camisola. Até que a brincadeira já não era evitar a água mas tentar apanhá-la. 

Os pequenos gritinhos de alegria dos meninos chegaram à esplanada. As mães e as avós deitaram as mãos à cabeça. Ai que se aleijam, ai que se magoam, ai que se constipam. Até que uma se riu: deixem lá os miúdos, fazem eles bem, está um calor insuportável. E as outras riram-se também. Vamos fingir que não vemos disse a primeira que se riu. E continuaram a conversar umas com as outras.

Depois uma das senhoras sem netos disse: aqueles miúdos ainda se magoam! Os homens olharam pela primeira vez. Uma das mães disse: se calhar já chega. Foram buscá-los, não sem luta, claro. Uns vinham em pingo, outros apenas salpicados, elas fingiam que se zangavam, engolindo o riso.

No meio da confusão, ainda ouvi uma menina ruiva a dizer para o rapaz muito moreno: amanhã vens?

~CC~








domingo, 1 de setembro de 2019

Crónicas da Estação quente (IV)



A areia é fina e a água transparente, não tem algas, costuma ser fria, mas nem sempre. As dunas são lindas, cobertas pela vegetação que só na areia cresce.

O barco demora 15 minutos e a caminhada até à praia 10 minutos. Fica assim praticamente ao lado de casa.

Pergunto-me assim porque fui tão longe e do que fui à procura se o paraíso mora ao lado.

~CC~