Às vezes a praia fica no meio de um caminho.
E o apelo do mar torna-se grave e bem fundo, sobretudo por causa da sua cor no Verão, e de podermos senti-lo na pele.
Só depois percebi que estava num sítio da moda e num restaurante badalado e com preços altos, bastante altos para o que costumo praticar, mas há sempre alternativas, e havia. Mas era sobretudo um local onde não se vai sozinha, como eu ia. Creio que não foi por isso que me puseram ao lado um casalinho muito jovem mas para rentabilizar o espaço. Ela era uma autêntica modelo, alta, magra, loira e vestida como quem vai para uma sessão de fotografia, com a devida roupa de praia. Ele, modelado pelo ginásio, devidamente tatuado, parecia o seu agente, guarda costas e amante, ou mesmo uma mistura dos três. Queriam informações e por isso perguntaram se falava Inglês. É bom quando não encontramos nativos da língua e eles não o eram, pensei que seriam da Europa de Leste. Ia-lhes compondo a história, ela uma jovem à procura de ser uma estrela na moda, ele arrastado por essa Europa fora, saudoso dos fins de tarde regados a cerveja com os amigos. Houve sessão de fotografias, claro. Sem vergonha nenhuma e em diversas poses. Vi, com desagrado, como o empregado lhes tentou vender sempre o mais caro, do vinho à comida.
Fomos falando de quando em quando. A história foi-se desconstruindo, o que imaginamos do outro. Ou o que eles nos querem contar. Afinal eram polacos. Estavam deslumbrados com a praia do Meco. Perguntaram-me se era turista. Não, portuguesa, a morar a 20 km dali. Foi então que despertaram a minha simpatia. Que não era possível morar assim tão perto daquela maravilha, sentia-lhes a boa inveja, o olhar perdido no mar, o sorriso, a tristeza do regresso. Se não me sentia feliz, tinha que ficar e de facto fiquei. Pois se morava a 20km dali. O que vemos no olhar dos outros, temos que reparar bem, quem sabe nos traz o que desejamos.
~CC~