Cada um vê uma cidade com o coração que tem.
É linda a vieira que simboliza a cidade de Santiago e para mim ela é água e mar e o arrepio de beleza que me provoca é fruto da minha rendição à natureza, do meu respeito por ela. São também belas as construções medievais, a pedra escura que respira entre os parques verdes cheios de Camélias. O modo como as múltiplas igrejas escuras se intrometem no céu azul.
Vejo que para eles a emoção é outra e procuro entendê-la nos muitos rostos que esperam e esperam para dar um abraço ao apóstolo dentro da catedral. Mas sinto dificuldade em perceber o que encontram e porque se comovem assim. A cidade deles é outra, mas igualmente bela, intensa e comovente. E todos cabem cá, cada um com a sua emoção, se nos respeitarmos.
Uma cidade vê-se com o coração que se tem. Eu vi-a comovendo-me com os símbolos e frases que por todo o lado se afirmam contra a violência machista, com a vontade de me deitar nos muitos tapetes de relva dos parques, com a admiração pelos múltiplos museus de arte contemporânea em que se afirmam exposições que são gritos de revolta pelas misérias da humanidade. Vi-a admirando o modo como falam e escrevem a sua identidade por todo o lado, sem sufocar com ela.
Sabemos que o turismo faz viver e que o turismo mata. E não há um turismo mau e um bom, por mais que gostássemos de ser os do lado bom. Mas o turismo pode ser mais inteligente do que é agora. Andámos por ruas apinhadas e andámos por bairros lindos quase desertos, parques vazios e museus sem ninguém.
Podemos levar de cada lugar não o que todos querem ver, o que é preciso ver, o que nos dizem para ver, ou não apenas isso. Podemos levar o que o nosso coração escolhe.
~CC~