É verdade que a Primavera arrefeceu toda a vontade de mar. Mas deixou-me os mergulhos no verde. Que belos se oferecem os campos na sua imensidão de cor e que estonteante ficou o céu raiado de ora branco, ora cinzento, ora azul. Às vezes chove e cheira a terra molhada, ela pulsa, respira e absorve. Pouco a pouco tudo desligo-me das amarras e é como se pudesse finalmente descansar. E tanto que preciso de descansar, o corpo pede, mas a cabeça pede ainda mais.
Não há renovação se não sairmos do mesmo lugar, se não partirmos de quando em quando das casas que habitamos, esses lugares que são casulos e nos guardam e protegem, são também os lugares que nos criam as rotinas, os vícios, nos prendem às obrigações. Nem é de viajar que se trata, não é esse frenesim que de tudo tomou conta como se não houvesse lugar que não pudéssemos conhecer à face da terra. Para mim é apenas olhar-me noutros espelhos, contemplar o céu de um outro prisma, reparar que as borboletas têm outro voar e a vegetação muda. Com a distância o que dói e incomoda, dói sempre menos, seja qual o quadrante do corpo em que a dor se situa, nem todas se instalam dentro de nós como incuráveis.
Pausa é pousar ao de leve numa das cores do arco-íris e sentir a bênção do silêncio que habita a noite.
~CC~