Pensei muito tempo se as devia deitar fora. Trouxe-as do supermercado baratíssimas no ano passado, por esta altura. Precisava de ter flores em casa. Durante o Inverno elas praticamente secaram, até as hastes que tinham florido. Considerei as orquídeas irrecuperáveis. Contudo, sobraram a cada uma três folhas verdes, não pareciam estar mortas, nem vivas. Não fui capaz de as jogar para um caixote do lixo. Consultei a literatura e percebi um dos meus erros, tê-las colocado em vasos bonitos de barro. Fiz tudo mal, elas respiram e bebem pelas raízes, logo têm que estar em recipientes com luz e ser regadas de outra forma.
Fiz tudo bem. Durante mais de um mês não lhes vi recuperação alguma. Mas no último mês, numa delas, saíram duas novas hastes das que tinham ressequido e devagar, muito devagar, começaram a emergir uns pequenos botões que vigio com desvelo. Na outra, a recuperação parece mais difícil, não tem as hastes, cortei as ressequidas e não o devia ter feito, mas parecem estar a emergir da terra duas novas hastes guia, não sei bem se serão.
Sempre que pensava em deitá-las fora, sentia que era a mim própria que deitava fora, alguém, neste percurso de doença, poderia ter feito o mesmo comigo, simplesmente desistido, ou mesmo eu própria. E agora é como se a minha luta fosse a luta de todos os seres vivos, todos aqueles que têm algo a menos, algo diferente, um défice, um mal, um problema. Até a orquídea sem flor, é ainda uma orquídea, ficarei com ela.
~CC~