Era eu tão jovem quando aprendi como podia ser bom enfiar uma mão nos cabelos de quem se ama e rodar os dedos devagarinho. Como tu tinhas caracóis, podia brincar de os prender na minha mão, tentando desfazê-los como quem mergulha nas ondas do mar. Amei-te a sério e durante muito tempo.
Ali no jardim estavam as nossas sombras e o primeiro tremor da pele. Sei onde estás no presente mas o que quero de ti está no passado, as minhas visitas a amores anteriores são apenas a lugares dentro de mim, estás ali a sorrir nos meus dezasseis anos, com o teu lenço palestiniano e a tua roupa preta e é aí que te quero, é só aí que ainda te amo. Já não te levo assim comigo a ver a exposição da Clarice.
Clarice Lispector roubou todas as minhas palavras para dizer as coisas e por isso quase não vale a pena dizer mais nada. Ainda por cima ela usa a língua com açúcar.
Fiquem com este bocadinho: Um modo imprevisto de entender é achar bonito.
Há lá melhor modo de entender tudo.
~CC~