Tenho muitas saudades da baixa lisboeta, especialmente nesta altura do ano, em que procurava visitá-la. Não foi sempre, mas em alguns anos as iluminações de Natal foram encantadoras, sempre que se afastaram do barroco e investiram num estilo mais minimalista mas consistente, com uma coerência própria. Olho com tristeza para os enfeites de Natal das rotundas da minha cidade, estão simplesmente pavorosos.
Tenho saudades da baixa lisboeta, e já nem falo do lugar onde adolesci, a leitaria que era o ponto de encontro de todos os que vinham dos subúrbios e das várias partes da cidade e que apelidámos de Vaquinha, nunca lhe soube o nome correcto e só muito mais tarde, já na procura das memórias desse tempo, percebi que o seu nome era Camponesa. Não havia telemóveis e por isso arriscávamos, íamos sem saber se estaria por lá um de nós e quase sempre aparecia alguém, tempos que me parecem não só do século passado mas muito mais atrás.
Nos últimos anos as minhas deslocações raramente se faziam por ali, a quantidade de turistas, a crónica falta de estacionamento e até a diminuição do seu encanto próprio, em parte alimentado por ali se encontrarem as lojas que noutros sítios não existiam, foi-me afastando. Quando vi abrir as lojas das grandes cadeias de roupas, achei que o Chiado estava a morrer.
Mas este Domingo apetecia-me gastá-lo lá, percorrendo desde o Príncipe Real até à Sé, andando e andando, para chegar a casa extenuada, com dores nas pernas, poucas compras, mas os olhos cheios de Tejo.
~CC~