segunda-feira, 27 de junho de 2016

Casa(s)


Ás vezes ela vem a casa. Pensei que este termo só fizesse sentido para aqueles que estão muito longe de casa mas não. Estes 40km podem ser longe, são longe.

Diz-me que em Lisboa os locais em que se juntam os estudantes estão cheios, que para encontrar um lugar numa biblioteca é preciso chegar às 9h. Espanto-me, a biblioteca da minha escola está sempre vazia, os livros aborrecem-nos e já não há bibliografias, apenas sitegrafias.

Na busca dos locais preciosos para o silêncio, encontrámos este, cuja maior vantagem é este fundo azul, quase o mar. Podemos mergulhar, basta usar a imaginação. Isto de fazer de vários lugares a nossa casa é coisa de família.


~CC~

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Outra eu


Ele procura-me para dizer que abandonou o curso de repente por causa dos ataques de pânico, ansiedade. Afirma e reafirma que não quer tomar as drogas que lhe deram no hospital.

Há 20 anos teria simplesmente dito, em tom assertivo, que deveria tratar-se. Talvez mesmo recomendado que os medicamentos eram necessários, que para outra coisa qualquer também os tomaria.

Hoje baixo os olhos, compreendendo inteiramente o que sente. Digo-lhe que sei como é, falo-lhe dos meus truques para levar uma vida normal, sem qualquer droga que me retire o que me chegou tão abruptamente, como um trovão no meio da tempestade. Ficar sempre na coxia nas filas em salas de espectáculos, nunca ficar no centro de uma multidão, perceber sempre se há uma janela por perto, concentrar-me em memórias boas quando alguém estranho me toca por ser necessário (até no cabeleireiro), ter sempre a certeza que posso interromper o que quer que seja e sair. Não digo que nunca tomei nada para uma situação mais aguda (exames, por exemplo) mas consigo em geral dominar-me. 

Vem mais tarde dizer-me que pediu à docente que o deixasse sair um bocadinho do exame para ir à janela e conseguiu depois voltar. Toda a educação deveria comportar um caminho para a compreensão da fragilidade e da vulnerabilidade dos outros, sem cair em pieguices.

~CC~





segunda-feira, 20 de junho de 2016

Das coisas mais



Das coisas mais engraçadas que fiz nos últimos tempos foi integrar o júri que escolheu estes golfinhos. Não saltam para o Sado, mas às vezes parecem vivos.




Apareçam para ver.

~CC~





sábado, 18 de junho de 2016

A sessão da tarde



Ontem, no charlot, às 18h, um filme sueco. Fiquei com tantas saudades do Festróia. O filme era bonito, uma relação de amor-ódio entre duas irmãs que eram azeite e vinagre. Estavam talvez 10 pessoas no cinema, todas mulheres, a maior parte sós.

~CC~

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Quase manhã



Uma praia pequenina cheia de pedras na encosta da Arrábida, demorámos muito para lá chegar, meio perdidas mas valeu a pena pela paz, água cristalina, silêncio. Três amigas, cúmplices. Foi este o meu sonho matinal.

~CC~

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Fugas


Inevitavelmente nestes dias extenuantes dedicados à avaliação, a que se seguem exames, infinitas reuniões de balanço e lançamento de novas coisas, vagueio em busca de algo que me possa salvar do cansaço. Dizer tédio seria um exagero, é coisa que raramente e felizmente nunca senti. No auge do meu esforço mental, apenas não consigo pensar mais. E desligo-me quase totalmente do mundo, ontem nem sabia que havia um jogo de futebol da selecção portuguesa.

Para resistir e manter alguma sanidade mental, basicamente pesquiso blogues e canais de comida, de casas de turismo rural, imagens de países nos quais nunca porei o pé, curiosidades sobre a vida dos insectos ou de qualquer outra espécie remota que me ocorre ao pensamento. Desvios de 5 ou 10m que se assemelham a uma salvação. ainda que temporária.

Ocorrem-me imagens de um futuro incerto: será que alguma vez conseguirei ir a Buenos Aires? Será que quando conseguir ir ao festival de teatro do Mindelo ele ainda terá encanto? Ou memórias de lugares ou tempos felizes. Chego a sentir o cheiro do mar, a ver o campo de tremocilhas onde uma vez nos beijámos ou a estar outra vez naquela pequena embarcação na qual cheguei à ilha do Ibo, entre o medo e o deslumbramento. Sabores também, ocorrem-me sabores, uns bons, outros maus. A que sabia o gelado de múcua que quase me matou? Tento lembrar-me, sim, nem sequer era bom, um bocadinho ácido, estranho. A primeira vez que bebi água de coco? Não, não gostei. Caril, todo o tipo, isso sim.

Mais uns trabalhos, uma pauta, uma resposta a uma nota que não satisfez, mais uma voltinha...

~CC~





domingo, 12 de junho de 2016

Mar



A proximidade do mar, um quase milagre.

A dose, ainda que minúscula, por força deste tempo absurdo de tanto trabalho, permitiu-me curar a dor de garganta e o nariz entupido. Mas talvez o mais importante tenha sido o modo como levou tantas das nuvens negras do meu céu.

Como se vive num país sem mar?

~CC~

terça-feira, 7 de junho de 2016

Às vezes vale a pena


Este calor veio secar-me a garganta e os olhos, faltam-me lágrimas para chorar e ensaio sorrisos para momentos em que sei que tenho que sorrir. Por vezes esqueço-me de ti e fico genuinamente alegre, depois vem a tristeza, a preocupação. Quando as notícias chegam é para nos dizer que lutas, lutas connosco e por nós e por ti,  aí toda a minha força volta.

Recordo então que no meio disto houve um dia que se quis de festa, o dia de hoje, que criei para que fosse de festa e de repente faz sentido que assim seja, a vida tem mesmo que ser celebrada.

E emociono-me ao pensar naquela aluna que vi entrar no curso tímida e insegura, um patinho feio, hoje majestosa como um cisne, a sorrir. Tem que valer a pena, à vezes vale a pena.

~CC~


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Minha amiga


Minha querida

Que deuses são os teus para me poder ajoelhar diante deles? Deuses de terra sem dúvida. Deuses que vi aparecerem em tantos momentos da nossa vida conjunta, instalados no sorriso da canção dos Trovante que cantas tão bem. Deuses cravados no brilho do teu olhar, às vezes tão de menina, de mão dada com a minha filha, ligeirinhas Plaza mayor adentro como duas adolescentes.  Deuses gregos ou romanos sem dúvida porque esses são consagrados às coisas que mais amamos. Por isso se não existem na mitologia, sugiro pelo menos mais três deuses. Um que velasse pelos amantes dos brincos, esse adorno que salienta uma das partes mais discretas mas bonitas do corpo e com o qual te enfeitas tão bem. Sugeria também um deus consagrado aos gatos, dado o bem que lhes tem feito, será um Deus a torcer muito por ti. E por fim o deus dos amigos, esse por certo saberá o quanto nos tens dado e não precisará de nenhuma oferenda para interferir no destino a teu favor.

Tantas foram as vezes que a vida te colocou à prova e venceste sempre, mesmo que as cicatrizes mostrem às vezes o quanto isso foi duro e difícil. Esta é só mais uma prova mas sem dúvida uma das maiores. Não sou muito efusiva nem intrusiva, fico aqui no meu canto a pensar em ti sem saber qual o melhor modo de ajudar. De alguma forma o que me resta do pensamento mágico infantil é acreditar que se o fizer de modo positivo, isso permitirá ajudar as próprias energias do universo, vulgo entranhadas em máquinas e medicamentos e utensílios e saber médico.

Penso muito em ti e estou contigo.

~CC~