A mãe sempre gostou de costurar e a filha cresceu a vê-la inventar roupa e desconstruir outra já comprada. Quando receberam aquela pequena herança, ficaram a pensar no que poderiam fazer juntas e uma loja com marcas inovadoras e uma peça ou outra feita pela mãe apareceu como uma coisa que poderia trazer uma lufada de ar fresco a uma localidade pequena mas com bastantes jovens. A filha achava que já tinha passado a fase das grandes cadeias de marca e que muitos e muitas já estavam fartos de encontrar na escola e no trabalho pessoas com camisolas, calças e casacos idênticos aos seus. Talvez fosse o tempo de se ser um pouco original, de ter uma peça única.
O primeiro ano não correu mal, já o segundo chegou com a pandemia, o fecho abrupto e depois disso os múltiplos condicionamentos. Passavam tardes uma com a outra na loja vazia. Primeiro, a ideia mais óbvia foi a de criar o Facebook e o Site. Mas nem por isso as vendas cresceram muito, pois como elas, muitos já tinham tido a mesma ideia. Uma tarde a mãe disse à filha para vestir isto e aquilo e fazer um pequeno desfile pela loja, a filha brincou com ela e fê-la prometer que a seguir trocariam. Uma filmava e fotograva a outra e divertiam-se. Integraram esses pequenos vídeos nas redes socias e as visualizações cresceram, as compras também, ligeiramente. Depois disso, uns pequenos "directos" com a história das peças, desde o tipo de tecido aos vários modos de a vestir. Divertiram-se ainda mais. Mas mais do que isso descobriram nelas talentos que nem sabiam ter. Venderam um pouco mais, sem êxitos retumbantes mas a conseguir alguma compensação, a ver a luz ao fundo do túnel.
Sentem-se agora muito menos sós e ganharam esperança.
~CC~
Nota: Inspirada numa história verdadeira lida num jornal local.