Vivo em duas terras turísticas, não as piores por certo. Setúbal e Faro são, contudo, duas cidades em que o turismo tem crescido, aqui nas terras sadinas, fruto do novo empreendimento de Tróia, em terras nacionais com a novela que aqui é filmada a dar uma ajudinha.
Como em todas as cidades que vêm a sua população crescer para o dobro, sofro um bocadinho e sinto uma certa ambiguidade. É difícil chegarmos à taberna em que há um mês não era preciso reserva e agora ser, é difícil ver o areal de Tróia tão cheio, a fila para a compra de bilhetes. Este ano estão cá muitos franceses, também mais espanhóis, portugueses com pronúncia do Porto, o que não era até agora muito comum. Este ano ainda não tinha ido a Tróia, os bilhetes são caros e a água apesar de ser um espelho, costuma ser fria. Mas a paisagem é bonita, não obstante a construção. Hoje vi uma família inteira de golfinhos, um casal e dois filhotes, acompanharam grande parte do trajecto do barco, fazendo semi-circulos perfeitos, praticamente todos ao mesmo tempo. Lindos, tão bonitos que me emocionaram. E os miúdos no barco davam gritinhos de excitação, algumas velhotas também. Perdoei-lhes terem invadido o que durante o ano é só meu. Quem foi a África e viu um elefante ou quantidades enormes de macacos saltando de galho em galho mesmo à frente de nós, tem que perdoar a quem viaja, a quem quer ver, sentir. Há que partilhar a beleza. Contudo, devíamos pensar um pouco na forma como ela se pode partilhar, o turismo de massas pode matar esta beleza.
A população de golfinhos no Sado tem-se mantido mais ou menos estável mas nunca vi tantas barcos no estuário, é esse equilíbrio que me preocupa. Aqueles golfinhos são parte da identidade sadina, temos mesmo afecto por eles, perdê-los seria matar um pouco a cidade.
~CC~
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