Cada um vê uma cidade com o coração que tem.
É linda a vieira que simboliza a cidade de Santiago e para mim ela é água e mar e o arrepio de beleza que me provoca é fruto da minha rendição à natureza, do meu respeito por ela. São também belas as construções medievais, a pedra escura que respira entre os parques verdes cheios de Camélias. O modo como as múltiplas igrejas escuras se intrometem no céu azul.
Vejo que para eles a emoção é outra e procuro entendê-la nos muitos rostos que esperam e esperam para dar um abraço ao apóstolo dentro da catedral. Mas sinto dificuldade em perceber o que encontram e porque se comovem assim. A cidade deles é outra, mas igualmente bela, intensa e comovente. E todos cabem cá, cada um com a sua emoção, se nos respeitarmos.
Uma cidade vê-se com o coração que se tem. Eu vi-a comovendo-me com os símbolos e frases que por todo o lado se afirmam contra a violência machista, com a vontade de me deitar nos muitos tapetes de relva dos parques, com a admiração pelos múltiplos museus de arte contemporânea em que se afirmam exposições que são gritos de revolta pelas misérias da humanidade. Vi-a admirando o modo como falam e escrevem a sua identidade por todo o lado, sem sufocar com ela.
Sabemos que o turismo faz viver e que o turismo mata. E não há um turismo mau e um bom, por mais que gostássemos de ser os do lado bom. Mas o turismo pode ser mais inteligente do que é agora. Andámos por ruas apinhadas e andámos por bairros lindos quase desertos, parques vazios e museus sem ninguém.
Podemos levar de cada lugar não o que todos querem ver, o que é preciso ver, o que nos dizem para ver, ou não apenas isso. Podemos levar o que o nosso coração escolhe.
~CC~
Tudo é um pouco com o coração que se tem, não é mesmo? Santiago é cidade de que vi pouco e em pouco tempo, mas gostei qb. Passeei pela beleza da sua catedral e admirei os que a guardavam na entrada, vestidos ao rigor de outros tempos; vi as capas dos estudantes ao vento como andorinhas friorentas; enfileirei, só por curiosidade de saber para quê, no interior da catedral; flanei debaixo das arcadas de ruas que me pareceram Évora; mirei em cada montra queijos como seios de mulher jovem; comi dos seus petiscos e gostei da respiração da cidade. E foi isto há mais de vinte anos, ainda os turistas não apoquentavam o miolo da cidade.
ResponderEliminarGostei deste seu texto CC. Aliás não deve ser surpresa para si, depois de ter "ganho" uma noite de espertina a ler o ardósia.
ResponderEliminar"E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar"
Vai aonde te leva o coração de Susanna Tamaro
Desculpem Bea e Joaquim, nas andanças galegas e transmontanas não consegui responder-vos. Beijinhos.
ResponderEliminar~CC~