nesta rua da minha infância aprendi a voar, nunca vou deixar que me cortem as asas
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
Crónicas de Verão (VII)
Estou a lutar para manter o Verão dentro de mim. Não está fácil. Nos momentos mais intensos de trabalho passo a língua pelos lábios e tento que me saiba a sal.
O verão dentro de nós. Há coisas na vida que nos instauram um verão até em pleno inverno. Mas um sabor a sal, só me lembra a canção de Calvário. As lágrimas são salgadas. O que me lembra uma das coisas que apreciei na exposição sobre a arte islâmica que Gulbenkian coleccionou: um lagrimário, vidro decorativo de forma muito sui generis para onde, diz-se, choravam as mulheres que tinham os maridos na guerra. Achei extremamente difícil acertar lágrimas com lagrimário (talvez seja antes lacrimário). Mas a ideia de conservar as pérolas do desgosto, tem beleza. A representação das corças no fundo dos pratos também é uma história bonita. Mas fica para outro dia. Parece-me que o gosto a mar é no mar que se tem. O resto é imitação:) pechisbeque. Boa noite, CC.
Laura, imagino-a:) Isabel, às vezes consigo, mas nem sempre... Maria, o mar é o meu anti-depressivo favorito! Ah Bea, o sabor a mar pode prolongar-se em nós sim, este ano a água estava especialmente salgada e esse sal não é nada igual ao sabor a sal das lágrimas, são salgados opostos. ~CC~
Anualmente, encontro a água do mar mais salgada:). É claro que não são iguais, mas "ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal". O meu défice de mar este ano atingiu picos nunca sentidos. Talvez as próximas semanas, ou mesmo Outubro, permitam algumas visitas que diminuam o défice. Discordo em grande parte de Afonso Cruz.
E a culpa é minha, bea, que pus apenas um extracto de uma história maior :) As pessoas não necessitam de água salgada para sobreviver, mas sim de água doce (rios, lagos, nascentes, etc.) e muitas morrem sem nunca ver o MAR, umas porque não podem, outras porque não querem. Um octogenário, embora vivendo perto do mar nunca tinha querido vê-lo, então o Afonso conta:
"Levei o homem, apesar da sua resistência, a ver o mar. Jamais esquecerei a cara dele, os olhos, a boca, as mãos, quando a paisagem marítima lhe bateu no rosto. Amparei-o nos meus braços enquanto ele tentava dizer alguma coisa, enquanto a sua boca abria e fechava com a língua emaranhada, os olhos encardidos de horizonte."
E depois vem a frase que eu pus; e o texto continua...
E eu cada vez gosto mais do Afonso Cruz, ele escreve coisas que me tocam fundo... mas nem todos gostamos do mesmo ;)
Sorry ~CC~ pelo tamanho do comentário. Bom fds para as duas. ⚘⚘ Maria (que está aqui a entristecer, não com alta de ar, mas de mar...) 🐳
Maria (das estevas, flor que adoro)...muitas ondas? Isso é que já é pior, mas por aqui pode escolher o Meco. Joaquim, não sei a a Maria leu, ela dirá, mas eu li e gostei. E o bocadinho que a Maria colocou aqui é mesmo muito bonito, sobretudo agora mais completo. ~CC~
Também adoro estevas, ~CC~, sempre que vinha cá de férias tirava fotos de e junto às estevas. E gosto do nome que me deu :) Nasci em Lisboa e vivi lá até aos 29; com os meus pais ia para Carcavelos, Guincho, Adraga, Ericeira, mas também para o Portinho da Arrábida, Sesimbra ou Galapos. Mais tarde, com os amigos, ia sempre para as praias entre a Caparica e a Fonte da Telha (havia um comboiozinho que deslizava pelas dunas: uma maravilha) e aí aprendi a furar as ondas, que por vezes eram assustadoras. Mas sou Maria de todos os mares e gosto de água fria brrr ;) Mais tarde, em Sines, onde vivi 10 anos, as minhas amigas de Angola e Moçambique não conseguiam entrar nas águas de Porto Covo ou de Milfontes, achavam-nas geladas, só molhavam os pézinhos... Então quem tomava conta de toda aquela criançada que só queria andar a brincar na água? A Maria :)))
Afonso Cruz: Li, sim, Joaquim, e gostei muito. Também li o Flores e o Mar. E em Novembro/18 (como o tempo passa!) comprei o "Princípio de Karenina" que adorei; lembro-me de parar várias vezes e ficar perdida em pensamentos acerca de certas frases acabadas de ler. E quando isso me acontece só me apetece ir ler tudo desse autor... FDS Feliz! ⚘⚘
Esporadicamente também passo a língua pelos lábios e não é à vista de comida deliciosa. Invariavelmente sabe-me a sal. PS: a propósito de comida, ouvi falar do "De pedra e sal", na sua urbe. Recomenda?
Junho e Setembro é onde se está melhor junto ao mar, pelo que ainda vai (vem) a tempo Bea. Há que colmatar esse défice (que eu, imagine-se, já começo a sentir após uma semana inteira sem lá ir). Joaquim, sabe que como pessoa da terra não frequento tais lugares, sei onde é e até já me falaram bem, mas os meus lugares são outros. ~CC~
E sabe-te a sal, CC?
ResponderEliminar"É, na nossa vida, completamente desnecessário ter qualquer proximidade com o mar, mas a sua simples visão provoca alterações profundas na alma."
ResponderEliminar~CC~, penso que estas palavras do Afonso Cruz ficam bem aqui.
Estão na página 89 do livro MAR (Alfaguara, 2014).
Beijinho
⚘
O verão dentro de nós. Há coisas na vida que nos instauram um verão até em pleno inverno. Mas um sabor a sal, só me lembra a canção de Calvário. As lágrimas são salgadas. O que me lembra uma das coisas que apreciei na exposição sobre a arte islâmica que Gulbenkian coleccionou: um lagrimário, vidro decorativo de forma muito sui generis para onde, diz-se, choravam as mulheres que tinham os maridos na guerra. Achei extremamente difícil acertar lágrimas com lagrimário (talvez seja antes lacrimário). Mas a ideia de conservar as pérolas do desgosto, tem beleza. A representação das corças no fundo dos pratos também é uma história bonita. Mas fica para outro dia.
ResponderEliminarParece-me que o gosto a mar é no mar que se tem. O resto é imitação:) pechisbeque.
Boa noite, CC.
Laura, imagino-a:)
ResponderEliminarIsabel, às vezes consigo, mas nem sempre...
Maria, o mar é o meu anti-depressivo favorito!
Ah Bea, o sabor a mar pode prolongar-se em nós sim, este ano a água estava especialmente salgada e esse sal não é nada igual ao sabor a sal das lágrimas, são salgados opostos.
~CC~
Anualmente, encontro a água do mar mais salgada:). É claro que não são iguais, mas "ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal". O meu défice de mar este ano atingiu picos nunca sentidos. Talvez as próximas semanas, ou mesmo Outubro, permitam algumas visitas que diminuam o défice. Discordo em grande parte de Afonso Cruz.
ResponderEliminarE a culpa é minha, bea, que pus apenas um extracto de uma história maior :)
EliminarAs pessoas não necessitam de água salgada para sobreviver, mas sim de água doce (rios, lagos, nascentes, etc.) e muitas morrem sem nunca ver o MAR, umas porque não podem, outras porque não querem.
Um octogenário, embora vivendo perto do mar nunca tinha querido vê-lo, então o Afonso conta:
"Levei o homem, apesar da sua resistência, a ver o mar. Jamais esquecerei a cara dele, os olhos, a boca, as mãos, quando a paisagem marítima lhe bateu no rosto. Amparei-o nos meus braços enquanto ele tentava dizer alguma coisa, enquanto a sua boca abria e fechava com a língua emaranhada, os olhos encardidos de horizonte."
E depois vem a frase que eu pus; e o texto continua...
E eu cada vez gosto mais do Afonso Cruz, ele escreve coisas que me tocam fundo... mas nem todos gostamos do mesmo ;)
Sorry ~CC~ pelo tamanho do comentário.
Bom fds para as duas.
⚘⚘
Maria (que está aqui a entristecer, não com alta de ar, mas de mar...)
🐳
... não com falta de ar, mas de mar (salgado e com muitas ondas).
Eliminar🐳
Já que a Maria gosta de Afonso Cruz, pergunto-lhe se já leu "Para onde vão os guarda chuva" e se gostou. BFS
EliminarMaria (das estevas, flor que adoro)...muitas ondas? Isso é que já é pior, mas por aqui pode escolher o Meco.
EliminarJoaquim, não sei a a Maria leu, ela dirá, mas eu li e gostei. E o bocadinho que a Maria colocou aqui é mesmo muito bonito, sobretudo agora mais completo.
~CC~
Também adoro estevas, ~CC~, sempre que vinha cá de férias tirava fotos de e junto às estevas. E gosto do nome que me deu :)
EliminarNasci em Lisboa e vivi lá até aos 29; com os meus pais ia para Carcavelos, Guincho, Adraga, Ericeira, mas também para o Portinho da Arrábida, Sesimbra ou Galapos.
Mais tarde, com os amigos, ia sempre para as praias entre a Caparica e a Fonte da Telha (havia um comboiozinho que deslizava pelas dunas: uma maravilha) e aí aprendi a furar as ondas, que por vezes eram assustadoras.
Mas sou Maria de todos os mares e gosto de água fria brrr ;)
Mais tarde, em Sines, onde vivi 10 anos, as minhas amigas de Angola e Moçambique não conseguiam entrar nas águas de Porto Covo ou de Milfontes, achavam-nas geladas, só molhavam os pézinhos... Então quem tomava conta de toda aquela criançada que só queria andar a brincar na água?
A Maria :)))
Afonso Cruz: Li, sim, Joaquim, e gostei muito. Também li o Flores e o Mar.
E em Novembro/18 (como o tempo passa!) comprei o "Princípio de Karenina" que adorei; lembro-me de parar várias vezes e ficar perdida em pensamentos acerca de certas frases acabadas de ler.
E quando isso me acontece só me apetece ir ler tudo desse autor...
FDS Feliz!
⚘⚘
Esporadicamente também passo a língua pelos lábios e não é à vista de comida deliciosa. Invariavelmente sabe-me a sal.
ResponderEliminarPS: a propósito de comida, ouvi falar do "De pedra e sal", na sua urbe. Recomenda?
Junho e Setembro é onde se está melhor junto ao mar, pelo que ainda vai (vem) a tempo Bea. Há que colmatar esse défice (que eu, imagine-se, já começo a sentir após uma semana inteira sem lá ir).
ResponderEliminarJoaquim, sabe que como pessoa da terra não frequento tais lugares, sei onde é e até já me falaram bem, mas os meus lugares são outros.
~CC~
Rhinomer também tem gosto a sal. É mesmo água salgada. Paga a bom preço. Mas não é a mesma coisa:)
ResponderEliminarOh Bea, do que se foi lembrar...os miúdos detestam isso, já de um pirolito nunca se queixam:)
Eliminar~CC~
Não é que me lembre, não me posso é esquecer:).
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