Desta vez apenas fotografei com os olhos aquele Alentejo.
Não fora a sopa de cação e a fatia de sericaia e tudo seria outro lugar qualquer, não o território que antes era celeiro. Agora há hectares e hectares de olival e amendoal, com rega gota a gota e proprietários sem nome nem rosto conhecido. Assim que a noite cai grupos de jovens de tez mais ou menos escura vagueiam pela cidade como pirilampos sem luz. Usam mochilas onde parecem levar tudo o que têm. Acho que são as novas ceifeiras, os novos explorados do mundo. Nas aldeias não há já tendas de circo como nos livros do Manuel da Fonseca.
Saio de madrugada e chego ao anoitecer ao centro e já não vejo velhos, nem cães vagabundos, nem sequer gatos. O sítio em que estou é também um não lugar, uma casa antiga restaurada mas mobilada a móveis baratos suecos que no pequeno almoço tem 3 tipos de leite vegetal e 3 tipos de pão (des)congelado.
Onde estás Alentejo que não te sinto. Sobrou a pronúncia tão bela nos miúdos enregelados nas manhãs de escola deste mês de Fevereiro.
~CC~
Calma, CC, já está menos frio, ainda que as manhãs mantenham um toque de frigorífico. Mas, note bem, todo o Portugal mudou, qual a razão para que o Alentejo continue a ser o de Manuel da Fonseca?! É verdade que temos um bocadinho vocação de ilha, mas ninguém resiste ao tempo, nem o Alentejo:). Estamos no século XXI e, dependurados nele, todos os apêndices da história.
ResponderEliminarMas fica-nos a memória, não sei se bonita, desse tempo de miséria e circos ainda mais miseráveis, de ceifeiras exploradas até ao tutano, de gente morrendo sem um cêntimo para chamar o médico ou comprar medicação, de ignorância e iliteracia. Como em tudo acontece, o Alentejo é verdade na alma de cada alentejano. Ter alma de Alentejo é privilégio. Pães, leites e Ikea são redundâncias, pó de giz.
Tenha um dia bom.
Claro, a alma é sempre o mais difícil de encontrar:) Ainda assim, a breves espaços, consegui percebê-la. Dia bom também.
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