sábado, 3 de agosto de 2024

Não sei ser

 

Leio finalmente alguma coisa dessa senhora, prémio nobel de 2022, de seu nome Annie Ernaux. Comecei pelo "Os anos", que ganhei no meu aniversário do ano passado (a pedido) e nem tinha aberto. Percebo os que amam e os que não amam esta escrita e estou a situar-me no meio. Mas não sei se todos os outros são assim, hei-de ler pelo menos outro. 

Para mim é como um manual de antropologia urbana em que ela própria é parte integrante, nesse sentido identifico-me, se calhar também eu o faço na escrita aqui. Contudo, se fosse eu, registava também os anacronismos de época, enquanto ela traça um quadro coerente em cada etapa, no qual ela se integra em pleno, vestindo, consumindo, adoptando aqueles hábitos e práticas. Não há marcos estanques entre as várias décadas, subsistem em cada uma, traços de uma outra, como vestígios que perduram muito além do que seria expectável.

Na praia que mais frequento aqui perto de casa há um café-restaurante muito século XXI, todo ele branco, a cheirar a IKEA, sempre com um bolo vegan e sem açúcar, a par de coxinha de frango bem brasileira. Mais adiante há uma barraquinha de cores chamada banana splash que vende granizados, um deles boca azul, ali é todo um mergulho nos anos 80 do século passado. Eu que fui adolescente nos anos 80 nunca gostei de granizados nem vivi o que era suposto viver nessa época, nunca entrei por exemplo num parque aquático. E também não como bolo vegan nem coxinha. Se calhar sou eu que estou errada e flutuo entre tempos sem me entregar a nenhum. Se calhar não sei ser de uma época.

~CC~




10 comentários:

  1. Também não gosto dessas "iguarias" que mencionou. E mais, a praia é um cansaço... só para contemplar o mar.
    Um abraço.

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    1. Verdade, a praia cansa...e mais ainda todo o frenesim das pessoas, estacionamentos e afins. Mas ainda gosto de sentir o mar na pele, não apenas de o contemplar.

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    1. Ah, ah Diogo...imaginei-o a ler só as primeiras frases e a sair logo a correr para não desgostar...

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  3. Nesse caso, eu também não. Sempre fui muito igual a mim própria, sem seguir modas. Gosto do que gosto, não tenho espírito de "ovelhinha".
    Também só descobri Annie Ernaux este ano. Li dois livros e não gostei.
    Já da "Rua da India" gosto sempre muito.
    Um abraço do Sul CC!
    Sandra Martins

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    1. Olá Sandra, obrigada por partilhar. Um abraço aqui um pouco menos sul.

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  4. não é fácil gostar de Annie Ernaux.
    Eu vejo em toda a obra dela (e não só n'Os Anos) um navegar autobiográfico entrecortado com a história recente.
    Talvez a insistência na leitura me leve a compreender o centro da sua escrita, mas é um facto que também vou adiando a leitura

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    1. Creio que nos é difícil habituar a um gênero que não é ficção nem biografia, acaba por não agarrar tanto mas é interessante. Obrigada por partilhar a sua opinião.

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  5. não gosto assim muito dessa escritora de quem toda a gente parece gostar depois de ganhar o Nobel. Incluo-me na maioria dos portugueses que só depois do prémio a leram. Não sei bem porque me desagrada um tanto; não penso nisso, e nem vale a pena. Mas admiro as razões da CC, que têm qualidade crítica, embora não as entenda, lá está, por não me debruçar sobre.
    Se os granizados forem o que estou a pensar, já foram uma grande preferência com sabor a fruta e muito gelo centrifugado, Saía do barco de Tróia e íamos beber um granizado de laranja que durava até à estação de comboios. Penso por vezes que tenho gostos e carácter um tanto retro, constatação que nada me preocupa. Como diz um rapaz da minha idade, "eu depois dos setenta deixei de me preocupar e evito aborrecer-me à séria."
    No resto, concordo consigo
    E queira ter uma boa noite

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    1. Será a Bea? Parece...eu também só a comecei a ler por ser Nobel...só que ultimamente é o que me tem acontecido, sempre alguém desconhecido e que não me deslumbra, enfim...
      Obrigada.

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