A noite que chega mais cedo, o primeiro frio a entrar na pele, o prenúncio da chuva, uma maldita tristeza que sinto ao despedir-me de cada Verão. Cada um tem um tempo de risco, para alguns é o Natal, para outros os anos, para outros o tempo do maldito calor. Para mim é esta entrada nos tons castanhos, folhas mortas, caídas, um cheiro a morte por todo o lado, os bichos a enfiarem-se na terra, os pássaros de partida. O meu corpo a combinar com o Outono, num lento apodrecimento, enfim rendida a mais que necessários cuidados médicos, uma coisa que não suporto. Ainda assim muito aquém do que sinto precisar.
Quando me cruzei contigo há anos tinha feito batota com tudo, era Outubro mas tomávamos banho no mar e estendíamos as toalhas ao sol. Era Verão no Outono. Belo truque que usaste, ainda não sei como o fizeste.
Precisava que me guardasses o mês inteiro dentro do teu coração para poder sobreviver aconchegada no teu calor, de saber que a minha morte foi apenas um simulacro, como se faz quando se ensaia um sismo e todos se levantam das macas, a rir depois da representação.
Nos desenhos novos das nossas velhas vidas imagino-te como um miúdo a caminho da escola nova, a melhor coisa que existe é a capacidade de nos reinventarmos os mesmos e ainda assim outros. Os laços que duram sem ser por obrigação só podem ser por imaginação.
~CC~
Sem comentários:
Enviar um comentário
Passagens