Ele escrevia cartas de amor a pessoas que não as conseguiam escrever (Her, o filme). Eis uma profissão que eu não me importaria de ter, desde que as pessoas olhassem para mim como uma espécie de tradutor do que o coração delas não torna palavras e soubessem ambas da verdade.
Escrevi muitas cartas ao meu amor ao longo dos anos, privadas e públicas. A nossa história começa assim a quatro mãos, em torno de uma pequena alfarroba, que chamámos de farrobinha. Depois as palavras tornaram-se cada vez mais só minhas e chorei muito sobre o modo como as dele foram desaparecendo. Sou pouco dada a entender que a paixão se torne amor e depois amizade, numa transição linear e inevitável que algumas pessoas aceitam e outras combatem ferozmente. Mas também sou pouco dada a forçar coisas, seguir receitas de aquecer o amor, cartilhas românticas mais ou menos vendidas como infalíveis, do tipo férias ou fins de semana a dois em locais paradisíacos. A cada momento somos diferentes, vamos precisando de coisas diferentes e as manifestações de amor vestem-se de múltiplas roupagens que é preciso desvendar. Às vezes há paixão, outras amor e noutras é a amizade que vinga.
Mas eu gosto das palavras. Vejo-o nestes dias de aniversário como o menino irrequieto que assustava rãs e pássaros, como o homem que lacrimeja ao meu lado no cinema, como o velho que me dará uma mão enrugada para se apoiar em mim quando atravessarmos a estrada. De tantos anos, tantas lágrimas, muitos sorrisos, tenho a mesma vontade de sempre de partilhar o crepúsculo, dar-lhe um beijo, enroscar-me para dormir, sorrir-lhe pela manhã. A mesma vontade de abraços colados com todo o corpo. A alegria por amanhã ser o dia dele, o respeito pela forma como quase nunca o festeja.
Olho para ele com a ternura imensa de quem me ajudou nas crises de falta de ar, angústias doutorais e crises laborais, procurando devolver-lhe também esse alento para ultrapassar momentos menos bons. Quero beber-lhe a alegria quando toca e canta com os amigos, bebe um bom vinho, cozinha uma nova iguaria, lê um poema, escreve um novo texto.
Parte do meu amor por ele é companhia, tempos partilhados, meninas que cresceram entre nós, corpos que se sabem encontrar, partes comuns de sonhos, muito passado, ainda muito futuro.
Parabéns meu amor.
~CC~
Olho para ele com a ternura imensa de quem me ajudou nas crises de falta de ar, angústias doutorais e crises laborais, procurando devolver-lhe também esse alento para ultrapassar momentos menos bons. Quero beber-lhe a alegria quando toca e canta com os amigos, bebe um bom vinho, cozinha uma nova iguaria, lê um poema, escreve um novo texto.
Parte do meu amor por ele é companhia, tempos partilhados, meninas que cresceram entre nós, corpos que se sabem encontrar, partes comuns de sonhos, muito passado, ainda muito futuro.
Parabéns meu amor.
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