quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Esse maldito inconsciente



Freud foi um sábio, não creio que alguém ainda o tenha ultrapassado completamente, não obstante a sua posição relativamente às mulheres me desagradar e considerar a inveja do pénis uma aberração por ele criada. Já os sonhos, a interpretação deles, a tentativa de descerrar esse mistério da nossa inconsciência, esse é o seu maior feito. Não obstante o terreno desbravado, continuamos a saber muito pouco.  Há quem diga que não sonha, quem não se lembre dos seus sonhos, quem tenha receio de dormir por causa dos pesadelos, quem só se tenha realizado em sonhos.

Eu sonho sempre muito e acordo a meio da noite com os meus sonhos, com os piores e com os mais felizes. Para dormir uma noite inteira e não me lembrar de nada mesmo, é preciso que tome qualquer comprimidinho dourado. Não sei se é por permanecer (ainda) em vigília que o meu sono é assim naturalmente leve. Sei é que os meus fantasmas, que parecem todos tão arrumados que nem dou por eles na minha vida, se soltam mesmo com esse sono leve e entram em ebulição. Nos meus sonhos, estão lá todos os medos e temores, estão não as pessoas como elas são mas como tenho medo que sejam, os acontecimentos que receio que venham a existir, até a minha invalidez física, fantasma maior de qualquer vida, acontece por lá. Nos meus sonhos deixo repentinamente de ouvir, os que não gosto tornam-se meus chefes, o meu amor apaixona-se por uma amiga qualquer (às vezes têm rosto e outras não), a minha filha vai trabalhar para muito longe, perco o emprego, vivo na rua.Não pensem que é fácil, quando acordo tenho imensa dificuldade em desligar do que aconteceu no sonho, em considerar que não é verdade o que lá ocorreu. O sonho assemelha-se a uma premonição do futuro e isso derrota-me, entristece-me, estraga-me o dia. Mas não é melhor quando o sonho é bom em vez de mau. Imaginem o que é sonhar que se mora numa casa ao lado do mar, ouvindo muito ao fundo o barulho das ondas e acordar virada para uma estação de comboio no meio de uma cidade.

Sorte daqueles que nada sabem dos seus sonhos. Ou azar? Como terão soterrado tanto o seu inconsciente? O que diria Freud deles? 

~CC~






Sem comentários:

Enviar um comentário

Passagens