Algumas pessoas são poetas, tornam-se poetas. Outras nasceram para a ler, para se deleitarem com as palavras dos outros, para leitoras.
Durante algum tempo achei que podia ser a primeira e agora sinto-me cada vez mais a segunda, confortável como leitora, amante, apreciadora do que os outros fazem e produzem.
A distância da primeira à segunda condição parece ser muito grande mas é pequena. Nasce tudo da mesma génese, esse encantamento com as coisas, não pelo concreto que elas são mas por aquilo que nelas encontramos. As nuvens, por exemplo, podem ser quase tudo, dependendo da luz que lhes bate, da forma que tomam, da ligação que tecem umas com as outras. Uma árvore em flor, há lá coisa mais emocionante que essa festa fulgurante da natureza, desde a cor, a luz, o feitio da flor, a forma como ela se encaixa no verde das folhas. Quando é que comecei a gostar de poesia? Muito pequena, na imensidão do meu quintal angolano. No exacto momento em que parei durante muito tempo a olhar o carreiro das formigas a serpentear lentamente, lentamente.
~CC~
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