quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Ele, Daniel




É verdade, o Daniel também sou eu, tu, ele. Todos somos Daniel.

Afogados pela burocracia que tudo engole como um mostro silencioso, inumana, feroz, insaciável.

Ontem ao telefone para o centro de saúde; eu queria saber...Do outro lado: não é aqui! Telefone pousado com estrondo sem me deixar fazer a pergunta seguinte que me ficou a morrer na garganta. Sou eu quando o médico me interrompe depois de me ter perguntado pelos meus sintomas e continua a falar como se estivesse dentro de mim, somos nós sempre que somos atendidos por gente que nem nos olha e apenas se fixa no computador.

Daniel é todas as pessoas idosas que quando as bilheteiras estão fechadas não conseguem comprar um bilhete de comboio, remetidas para as máquinas que não sabem usar. 

Daniel sou eu a ler o decreto lei sobre incapacidades (desafio-vos), um objecto intragável que classifica ao pormenor cada parte do nosso corpo como se estivéssemos no talho. Daniel são todas as pessoas que não usam caixa directa e esperam ordeiramente na fila da CGD, agora que os balcões desataram a fechar (e pelos vistos ainda fecharão mais).

Ele revolta-se, ele deprimi-se, ele resiste. Não precisava morrer para nos mostrar o absurdo que é este sistema, mas é verdade, muitos morrem quando estão à beira da solução, é a exaustão.

Não percam, além de verem Daniel Blake, vão ver-se a vocês próprios, ao tio, a uma avó, um vizinho.

~CC~






3 comentários:

  1. Infelimente assim é, CC. Dizia-me há tempos um médico, que me atendeu numa urgência depois de uma asneira que outra médica fez e que me estragou as férias, que não passamos de números.
    É a terceira pessoa que faz uma apreciação positiva do filme, entretanto, vi o trailer. Não posso deixar de ver.
    CC, espero que esteja bem. Beijinhos

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  2. vi o trailer, mas não estou capaz de ver finais infelizes.
    bom sábado, CC

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  3. Deep...não pode mesmo!
    Ana, o final é tão esperado que não é bem infeliz, é só o culminar do que já esperamos do sistema. É como se não pudesse ser de outra maneira. Acho que ia gostar.
    ~CC~

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