terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Entulho natalício



Vi num pequeno largo três laranjeiras carregadas de laranjas, alinhadas na continuidade umas das outras, formavam um conjunto de verde harmonia. Ao olhá-las senti o aroma da laranja e do limão que acompanham esta quadra, só faltava a canela. Foi a única coisa que me tocou.

Deviam deixar a natureza vestir-se por si própria para festejar o Natal. Ela veste-se sem nós, há laranjas, limões, pinheiros, azevinho, castanheiros, nogueiras, água, neve.

A maior parte dos enfeites de rua são puras aberrações natalícias, como não chamar isso a pacotes de prendas penduradas em candeeiros? Quando há pinheiros naturais nas rotundas, estragam-nos com bolas gigantes brilhantes.  Há ainda umas árvores compostas de arame e luzes, uns cilindros enormes que parecem competir entre si para dizer qual é a cidade com a árvore mais alta, deve ter sido uma empresa a vendê-las a todas as câmaras, pois são praticamente iguais. E que dizer das aldeias de natal que são amontados de casinhas com um pai natal e vária mães natal, elas quase sempre de mini saia? As ruas estão cheias de entulho natalício, um carnaval antes de tempo, um desperdício.

Tudo isto fez com que não coloque em minha casa mais do que um apontamento minimalista que este ano ainda nem sequer encontrei. E isto é escrito por alguém que gosta muito do Natal.

~CC~








6 comentários:

  1. "Deviam deixar a natureza vestir-se por si própria para festejar o Natal."

    Belíssimo (num texto com alguns anos, em lugar implodido, escrevi que a árvore de natal mais bela é o diospireiro, nesta fase em que se libertou das folhas e dela pendem graciosos, subtis e - sem extravagâncias - monocromáticos frutos :)

    ResponderEliminar
  2. Alexandra, que bela imagem a do diospireiro...
    ~CC~

    ResponderEliminar
  3. Bonito texto! a verdade é que se não houver cuidado, sentido de estado natalício, juntamos o carnaval ao natal... no que me diz respeito não vou colocar luzinhas no meu lindo pinheiro que tenho no jardim! Que pena... apetecia-me mesmo :)

    ResponderEliminar
  4. concordo em absoluto.
    a natureza fala por si e as árvores são seres maravilhosos.

    ResponderEliminar
  5. E o que é delicioso, CC e Alexandra, é que a natureza, com os seus oportunos frutos, conspira contra os efeitos natalícias das cidades. O Natal é, hoje, uma crise de interpretação. O simbolismo do Natal não se resume às prendas, às iluminações e ao consumo desenfreado, mas inscreve-se na partilha do essencial, na possibilidade do renascimento, na liberdade de reinvenção que todo o ser humano pode concretizar.

    ResponderEliminar
  6. Olá Ernesto, umas luzinhas só brancas talvez se aguente:) Mas se o pinheiro já tem pinhas, está enfeitado por si próprio.
    Laura, adoro árvores também!
    Miss Smile, certo, o "essencial é invisível aos olhos".
    Um abraço a todos

    ResponderEliminar

Passagens