Há muitos livros sobre cancro, quase nenhum despertou a minha atenção. A excepção foi o livro "Uma parte errada de mim" de Paulo M. Morais. Conta a sua história sem nos dar grandes conselhos, acho isso fundamental, os sapatos de um outro raramente nos servem, precisamos de os moldar aos nossos pés, ainda assim podemos experimentá-los e ver como é andar neles. Foi assim que li o livro dele.
Nele encontrei a expressão dos tempos do medo e também de como se perde o medo. Ele conta como nos seus primeiros tempos, após a descoberta do linfoma e das primeiras sessões de quimioterapia, tinha medo de todo o tipo de contágio, ou seja das pessoas, as principais portadoras de vírus e bactérias. Evitava transportes públicos, cinemas, teatro, qualquer auditório cheio, qualquer contacto de proximidade. Levava a máscara quando era obrigatório estar em locais mais frequentados. Eu passei pelo mesmo, por esse medo atroz quando alguém perto de mim espirrava ou tossia.
E conta como um dia, farto de ter medo, foi andar de autocarro por Lisboa, de como foi bom. Eu também não consigo viver com medo, as saudades que eu tinha de cinema era tantas que me faziam mal. Domingo fui, mas já tinha começado antes a perder o medo. Houve espirros e tosse no cinema e sim, tive um bocadinho de medo, mas o gosto por estar ali superou-o. A cura, se nos isola, também nos mata, talvez só mais lentamente.
~CC~
Às vezes temos de o fintar um bocadinho, o medo.
ResponderEliminarE qual foi o filme escolhido?
é verdade, CC. o isolamento se não é por prazer (e mesmo assim...), só faz mal. eu passo a vida a mandar todos para a rua :)
ResponderEliminarSerá que se vence o medo com o cansaço de o ter?
ResponderEliminarCCF, nós temos uma capacidade imensa de ultrapassar o que considerávamos ser o nosso limite.
ResponderEliminarLaura, por me apetecer qualquer coisa alegre, bem disposta...foi La, la Land...cumpre bem o objectivo.
ResponderEliminarAna, pois, eu também gosto de ficar sozinha...mas como coisa desejada, não imposta.
Luísa, pode ser uma das formas do medo se ir embora...mesmo que não seja a única.
Isabel, e como o tenho descoberto...
Abraços quatro!