quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Algarve



Quase tudo agora no Algarve me faz lembrar o boom turístico dos anos 80. Talvez com menos estrangeiros, menos ingleses e alemães, mais franceses e espanhóis, mais vizinhos. Espero que a bolha não rebente como aconteceu nos anos 90 e quase bateu no fundo no raiar do século XX. Aprendemos pouco com os erros, repetimos, talvez por a memória ser curta, talvez porque os que encerraram as portas do comércio não sejam os mesmos que agora os abrem.

Numa das maiores e melhores geladarias de Faro vejo o mesmo rapaz a servir gelados entre as 12h da manhã e a meia noite. Tem sido sempre ele a atender-me e já sabe que vou pedir o sabor sem açúcar, não é muito simpático nem deixa de ser, cumpre. Não posso afirmar que não faça uma pequena pausa, mas deve ser pequena mesmo. Tem um ar extenuado e não deve ter mais que 18 anos. Trabalho temporário e pedidos escritos pelos vidros das lojas é o que não falta por aqui, pagos, contudo, miseravelmente. Lamentam-se ainda assim os proprietários, mas não abrem os cordões à bolsa para pagar um pouco mais. Também eu fui como aquele rapaz nos anos 80, acabava o dia com os pés e as pernas com dores horríveis. O trabalho em bares, restaurantes e afins é do mais duro que há, raramente se cumprem as 8 horas, não há contratos e muitas vezes a folga resume-me a uma tarde ou a uma manhã.

Também é isto o Algarve em Agosto.

~CC~

3 comentários:

  1. também notei isso.
    depois reflecte-se numa série de coisas. na educação, por exemplo.
    este ano não fui muito bem tratada em dois ou três sítios...

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  2. Querida CC, não é somente feita disto a restauração. Sou uma mãe divorciada há 13 anos, com duas filhas, de 22 e 19 anos, respectivamente. A mais velha, prestes a terminar o seu curso universitário, faz questão, há 2 anos (antes, não a deixou, eu deixaria, claro) de se afirmar diante do pai, que pode pagar-lhe as férias que ela entender ter (eu não posso pagar), de servir em restaurantes, cafés, para saber o que é trabalhar, ter 'massa' no bolso à custa de bolhas nos pés e um sono de derreter neurónios, mas continua.

    Anda exausta, mas este Verão conseguiu trabalho com um empregador de excelência (no ano anterior, foi roubada - muito menos € do que os inicialmente prometidos - e ainda teve que ouvir a latade conserva da namoradinha do patrão, naquela ligeireza de discurso amoroso em "colectivo" sobre as gorjetas servirem - eheheh - para um jantar colectivo no final da época estival: aprendeu cedo, que a hora de almoço também cedo se transformou em 10 minutos: meteu ao bolso as gorjetas que lhe foram pessoalmente oferecidas: mereceu-as, em maiúsculas, nem que fosse pelo ralhete daquilo de "comerem demais", quando as indicações eram para comer o almoço da casa e ela almoçou o que levava de casa, pois não comia carne e tudo o que havia era carne... para canhão :(

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  3. Pois é Laura, os sinais evidenciam uma possível repetição de algo que já conhecemos...e a questão não é só turismo, mais turismo, é também o que fazemos e como fazemos para lidar com isso.

    Alexandra, são muitos os jovens a contar experiências como as da sua filha, ainda bem que ela procurou outra coisa, muitos se deixam subjugar e dizem: é mesmo assim o mundo. Mas não é, não podemos deixar que seja.

    ~CC~

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