sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A sociedade dos magros



Oiço-os com frequência: estás tão elegante! Quase sempre sorrio, tranquila nos meus 44 quilos, sem dizer nada. Que tenha passado do M/L ao S e passado a encarar com alguma estranheza o meu próprio corpo não lhes diz respeito. Não sofria muito antes com uns quilinhos a mais, não sofro agora muito com uns quilinhos a menos. O corpo é importante mas é muito mais o que vive lá dentro.

Hoje, contudo, um colega foi longe de mais, afirmou; nunca estiveste tão elegante, olha que há males que vêm por bem! Não pude deixar passar em branco tal disparate. E respondi-lhe que preferia não ter tido a doença e ter os quilinhos a mais. Mas fiquei a pensar neste enaltecimento constante da magreza, tão paradoxal com os milhares de páginas ocupados a falar de comida, os canais dedicados à gastronomia e o índice de peso da parte ocidental da humanidade sempre a crescer. E a pensar no sofrimento, não só dos muito gordos mas mesmo dos mais gordinhos e gordinhas, e sabemos que parte da responsabilidade nem sempre é deles, há pessoas a comer o mesmo com resultados muito diferentes.

O meu corpo está magro mas não está bonito e disso tenho plena consciência, foi com esforço, talvez muito mais esforço que este ano me enfiei num fato de banho para ir à praia. Aliás não sei se os corpos magros são, só por isso, belos. Também não são necessariamente saudáveis os corpos magros, sei agora o quão difícil é estar sentada muito tempo, como dói esbarrar nas coisas, como custa pegar num saco mais pesado. Sinto os meus ossos à flor da pele, sobretudo os das costelas e das clavículas e gostava, como antes, de os sentir mais resguardados por uma camada protectora. Que sabendo a razão pela qual eu perdi peso as pessoas possam elogiar-me como se eu tivesse feito uma dieta maravilhosa é espantoso. Algumas moderam-se e dizem simplesmente que estou bem assim, que não me preocupe, que tenho bom aspecto, é uma nuance que faz toda a diferença.

~CC~



5 comentários:

  1. CC, para quem sabe da situação, é falta de sensibilidade e de generosidade, fazer considerações desse tipo.
    Sim, eu sei que se pode dizer que não se faz por mal. Também não digo isso. Mas digo que gente adulta, ao nível do padrão regular da nossa sociedade, tem a obrigação de fazer exercícios de empatia.
    Bom fim-de-semana, CC!

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  2. Além de muito maçadoras as conversas sobre peso, agora também servem desconsiderar e dizer verdadeiras alarvidades...enfim é o que temos.
    É bom saber que o que vai lá dentro é, e será sempre, mais importante que uns quilos a mais ou a menos.

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  3. Raios os partam!, que eu não serei jamais uma comentadora delicada :)

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  4. Isabel, pura inconsciência...mas na verdade a maior parte das pessoas não pensa duas vezes antes de falar.
    Miguel, é muito bom ouvi-lo dizer isso (ou seja, constatar que o escreve).
    Alexandra, genuína e igual a ti própria, vem aqui sempre assim!
    ~CC~

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  5. Sabendo o porquê de estar mais magra, é preciso ter muita falta de chá...

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