terça-feira, 30 de janeiro de 2018

E sabe-me bem este silêncio



A casa encheu-se de gente e agora está vazia. A casa que é grande quando cá vivo sozinha tornou-se muito pequenina e agora parece outra vez grande. Eles, os elos fundamentais. Desta vez não estiveram por eu estar doente, precisar de ajuda, de alguém por perto. Eu estive a par, cozinhando, pondo mesas, lavando, cuidando. Vieram só, vieram por haver quase festa, ou seja, ocasião para estarmos juntos, comermos, bebermos, conversarmos. Dissemos poemas e aprendemos a fazer fogaças, brindámos com chá e moscatel com as velhotas que desceram lá de Palmela, contando esse tempo de rezas e mezinhas misturadas com doces. Foi um tempo tão cheio. Mas agora, só, não me sinto verdadeiramente sozinha, ainda estou repleta de vozes, sabores, odores. E sabe-me bem este silêncio.

~CC~

4 comentários:

  1. esses silêncios acompanhados são dos mais bonitos...

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  2. Saboreia-se, em silêncio quase egoísta, o espírito do convívio recente que fica espalhado pela casa. É aproveitar. :)

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  3. CC, também gosto de estar sem que sinta solidão.
    E é bom quando encontramos a nossa gente sem ser por nada e ser por tudo, assim como é bom receber e dar presentes sem ser por nada... Há dias ouvi uma rapariga dizer sobre o receber flores: "Eu até gosto mais delas quando não vêm com os anos, com o Natal... Vêm porque alguém se lembrou de mim."

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  4. Laura, Isabel, Luísa...e eu confesso que agora aprecio o silêncio com ainda mais sabor, por esta altura, um ano antes, era constantemente interrompido pelo barulho insuportável das máquinas a que estive ligada.
    Sei que vocês são também mulheres com silêncios vossos, obrigada por estarem desse lado.
    ~CC~

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