quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

O meu nome (para a Alexandra)


Para a Alexandra (Imprecisões)

Encontravam-se dois Júlios (Resende e Machado Vaz) em cena e tinham chamado a esse encontro "poesia homónima". Tinha curiosidade pois era um produto híbrido, não era só música, não era só poesia, e mal sabia eu na altura, afinal também envolvia pintura. Avaliando as coisas pelo meu interesse nelas, acho sempre que os espectáculos vão esgotar, por isso procuro comprar os bilhetes antes. Nesse dia, nessa terra que viu nascer a minha mãe e para onde caminho amiúde, Olhão, vila da restauração, havia mais poesia e por isso fomos à tarde.

Entrei no átrio vazio e estava uma funcionária lá ao fundo, à qual me dirigi. Assim que cheguei o telefone tocou e ela atendeu mas ao mesmo tempo olhou para mim e disse: Cibele! Eu fiquei absolutamente espantada por ela saber o meu nome e estar assim à minha espera e disse: sim, sou eu. Ela respondeu: não, sou eu. 

Pediu um bocadinho e continuou o telefonema. Quando poisou o telefone, tive que esclarecer. Sim, ela também se chamava Cibele e também nunca tinha conhecido mais nenhuma mas sabia que no Brasil havia muitas e que agora passava uma novela brasileira em que uma das protagonistas tinha esse nome. Em Olhão, terra da minha mãe. Uma mulher com o cabelo muito escuro, menos dez ou quinze anos que eu, cujo pai gostava muito daquele nome e o tinha escolhido para ela. Tive que lhe dizer que isso era o que tinha acontecido com o meu pai, que tinha sido ele a insistir muito para que esse nome fosse o meu e que apesar de só ter conseguido colocá-lo em segundo lugar, tinha sido a força dele a impor-se e (quase) todos me tratavam assim, sobretudo os mais próximos. Um nome que foi o meu brilho e a minha sombra. Brilhou por me ter sempre identificado com ele mas foi sombra na altura da adolescência por se prestar às mais variadas interrogações e brincadeiras. Não escolheria outro para mim, é um nome completamente meu.

Também para mim aquele tinha sido um dia de poesia homónima.

~CC~


7 comentários:

  1. CC, há quase um ano fui ver um desses desconcertos, como são designados esses espectáculos. Fui pela poesia do geninho e pela curiosidade de como resultaria o registo proposto. Gostei, mas de forma moderada, ou seja, não entusiasmada. Isto porque considero que música, poesia, pintura, apontamentos que são contados com apelo à intervenção activa do público, leva a dispersão. É um bocadinho de muita coisa e eu preferiria que fosse mais de menos coisas para salvaguardar melhor o registo intimista e de reflexão.

    Bom ano!

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  2. Um nome curioso. Bonito e de bom som. :)

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  3. Um nome lindo, musical.

    fez-me lembrar: https://www.youtube.com/watch?v=SLZnW3A9Yqc

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  4. Cibele,

    tens nome de deusa e é um nome belo, mas creio que tu és ainda mais bela: lendo-te, os olhos percebem :)

    ... obrigada, fiquei deliciada :)*

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  5. Isabel, tem piada, foi mesmo disso que eu gostei: da fusão das linguagens e da interacção com o público. Já vi tanta coisa e ao menos esta era diferente.
    Impontual, até há uma Cibele que canta (brasileira) e nem é má de todo:) Eu às vezes também canto, baixinho num grupo, sozinha quando feliz.
    Laura, que bonito! Não conhecia.
    Alexandra, que nome bonito tens tu também! Se não fora Cibele, quem sabe...
    ~CC~

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  6. Um nome bonito, pouco usual. E como gostei dessa história de Cibeles...:)

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  7. Luísa, foi mesmo engraçado:). Obrigada.
    ~CC~

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