quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Um segundo de angústia



São apenas aqueles segundos de um momento de festa. Os disparates que se dizem. A dificuldade que sempre tive em lidar com aquele tipo de chacota e picardia. Mas eles divertem-se. Sei que nada daquilo é a sério, é só uma forma de matar o tempo quando todos juntos sentados a uma mesa. Nada me é particularmente dirigido, nem me é dirigido aliás. A doença protegeu-me de muitas destas coisas, beneficio do respeito que se deve aos sobreviventes. Mas por uns momentos sinto um vazio e pergunto-me pelos anos, pelo tempo que ainda ficarei por ali e se o quero. Percebo que só em parte tenho o mesmo passado que os outros embora tenha estado no mesmo lugar que eles, uma parte de mim sempre esteve noutro lugar. Sei que o meu modo de viver bem sempre foi cortar com o excesso de imersão nos sítios, ligando-me a vários e não apenas a um. Mas agora que abandonei uma parte da minha vida profissional por não querer mais nem poder gerir mais do que um trabalho ao mesmo tempo, pergunto-me se aguentarei. Mas depois calo a minha pergunta, a angústia é um ruído mau para o corpo. E tenho de aprender a dizer umas parvoíces, todos dizem que faz bem e eu sempre fui uma pessoa demasiado séria. E além disso, vem aí a festa do cinema francês.

~CC~


2 comentários:

  1. CC, não são os outros que sabem o que nos faz bem, mas sim nós. Por isso, cada um sabe o que deve fazer. Se uma pessoa não é de dizer parvoíces nem lhe apetece dizê-las, não tem de o fazer para estar na "norma".
    (Digo isto por causa da penúltima frase.)

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  2. Oh Isabel, é que às vezes tenho essa tentação, de vestir uma outra pele, experimentar ser uma outra (deve vir daí o meu fascínio pelo teatro).
    ~CC~

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