A Bea e o Joaquim puseram-me a pensar.
Afinal qual é o meu risquinho no mundo? O que lhe acrescentei eu? O que quis dar ou deixar aos outros?
Olho-me ao espelho da segunda forma mais difícil que há: em fato de banho (nua, seria a primeira). Não sou magra nem gorda, não sou loira nem morena, não sou bonita nem feia, não sou alta nem baixa (para a geração de agora serei baixa), herdei curvas e um bocadinho de celulite da mãe, uma pitadinha de loucura do pai (para esta não precisaria do espelho). Fiz de tudo um pouco mas sobretudo estudei, estudei muito, como tantas outras pessoas. Como me interesso por muitas coisas não aprofundei nenhuma a ponto de me tornar uma especialista de referência ou sequer uma cientista de renome, publiquei umas coisinhas, fiz uma conferências, falei para muita gente, com muita gente, às vezes talvez tenha brilhado um bocadinho mas outras nem tanto. Não tenho encantos nem especiais talentos. Sou assim uma pessoa vulgar. Tenho quase vontade de chorar quando me confronto com esta realidade nua e crua, esta pessoa eu no espelho.
Depois chega até mim uma única palavra, uma única coisa minha que é forte, é boa, é poderosa. Resiliência, poder para enfrentar dificuldades, contornar obstáculos, vencer abismos, amar a vida.
Mais uma vez venci as lágrimas que estavam a querer encher-me os olhos de uma tristeza tão tonta.
~CC~
Mas a CC que deu umas conferências e estudou estudou, e publicou umas coisas, julga que o seu risco no mundo depende da figura que tem? Pois custa a crer. Até eu que não tenho nenhuma dessas prerrogativas, facto que em nada me desagrada, sei que o que possa deixar não tem a ver com ser alta ou baixa e outros eteceteras. Também não me parece que seja isso assim uma espécie de herança deliberada, algo que se deixa com propósito de deixar. Mas estou firmemente convencida que todos nós somos para alguém, em algum momento, exemplares. Se publicou e fez conferências, tem mais chance de influência. E mais responsabilidade.
ResponderEliminarAmar a vida é um bom sintoma. Cultive-o. Morre na mesma. Mas vive mais satisfeita.
Mau, então mas estes pensamentos fazem chorar alguém?!
~CC~ com o seu currículo em prol dos outros (creio que também tem colaborado com países africanos) eu não me sentiria mal. No meu tempo dizia-se que para uma pessoa se realizar eram precisas três coisas; escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho. Só me falta escrever um livro, que nunca escreverei. O que é realmente importante deixar neste mundo? Qual é o risquinho? Socorro-me da Bea:
ResponderEliminar"o caminho do eu com os outros". Dar-se aos outros. Conduta benfazeja. Ajudar a ser e a fazer. Veja o filme Magnificent Obsession (Sublime Expiação) e entender-me-à melhor.
Depois também há a realização e o desenvolvimento pessoal, e não me estou a referir à realização profissional. Olhe, eu quando cheguei aos quarenta anos, senti que me faltava qualquer coisa. Matriculei-me numa faculdade e passado cinco anos terminava uma licenciatura - o curso, em termos profissionais não me serviu de nada, só fez de mim um homem melhor. E, há medida que envelhecemos, passamos a dar outro valor à vida. Há dois anos atrás quatro médicos decretaram-me um cancro pulmonar. Quatro! Viraram-me do avesso. Passados seis meses deram-me alta; afinal era uma doença rara com uma imagem radiográfica igual a uma neoplasia...
Imagina o que senti? Durante dois meses senti-me o super-homem, vivi num frenesim, cada dia era uma festa como se fosse o último. Agora, já tudo voltou à normalidade. Procuro saber das vivências dos outros lendo livros, vendo filmes. Olho para as artes plásticas com outros olhos. Desconfio dos políticos. Sou agnóstico, mas penso que a religião que faz mais sentido é o budismo. Amo a vida. No início do ano conheci o blog da Bea; foi uma coisa boa que me aconteceu. E gosto de café, especialmente de manhã. BFS
Joaquim, conheceu o meu blogue e outros. Há gente que escreve muito bem, bastante mais e melhor que eu no mundo da net. Não me parece real que considere a minha escrita assim tão específica. Mas pode sempre visitar-me.
EliminarTalvez o próprio teor da vida leve os homens à transcendência. O plano da crença tem pouca discussão, falta-lhe o domínio do comprovável. Tudo que ajude o homem a viver, o faça mais feliz e não prejudique terceiros, vale. Se for a religião, eu apoio.
Olá Bea, Olá Joaquim, então continuamos aqui à conversa...
ResponderEliminarBea, claro que não, sei que a figura é apenas uma das coisas que transportamos, longe de ser a mais importante, mas quem algum dia não olhou para si própria e não quis ser mais alta ou mais baixa, mais magra ou mais gorda, morena ou loira, com olhos desta ou daquela cor, com caracóis ou com cabelo liso? Eu tinha uma amiga que era linda aos meus olhos e vivia infeliz com o facto de ser muito alta, mais do que a maioria dos rapazes, isso era qualquer coisa que os desagradava, é claro que eu lhe dizia que o problema era deles e não dela e acredito nisso...mas ela queria por força ser mais baixa e só usava sapatos rasos. Somos humanos e assim vulneráveis, frágeis e às vezes tontos:)
Joaquim, não sabe o quanto admiro as pessoas que vão estudar mais tarde. Ao longo dos anos tenho convivido com vários e se alguns só aspiram a passar de técnicos a técnicos superiores, outros têm uma garra, uma capacidade...este ano mesmo tive como aluna uma ex vereadora, ex presidente de uma autarquia...a tamanha humildade e grandeza daquela mulher:) Ficam quase sempre no meu coração! Quanto à doença, como deve saber, a minha era mesmo neoplasia, e cá ando, finto a morte sempre que ela teima em aparecer-me e têm a mania de andar aqui à espreita:)
~CC~
PS. Como não amar o blogue da Bea e o seu macaquito! Que vontade tenho de a levar às minhas aulas de Pedagogia...
Que macaquito? Só se for eu mesmazinha.
EliminarVocês dois são óptimos a fintar doenças. Tenho de aprender isso. A mim são elas que me passam rasteiras :).
Eu avisei CC. Tem de se ter muito cuidado com aquilo que se escreve, quando se é lido pela Bea. É pior que a censura :). Escrutina tudo, não tem complacência e geralmente tem razão...
ResponderEliminarAté parece que sou a ASAE dos blogues, Joaquim. Leio com atenção; nem sempre escrutino; sou um bocadinho sem modos, sim; e oxalá tivesse razão tantas vezes como diz. Enganava-me menos:). Ou não. Que não é apenas a razão a comandar-nos o agir.
EliminarBom Dia:)
Bea, que vergonha, é a Bea do Erva Príncipe...(oh o que eu adoro essa erva!), confundi-a com a Be (que sempre li Bea) do blogue http://aserioputo.blogspot.com/...ela sim tem um macaquito e um blogue tão incrível como o seu embora completamente diferente!
ResponderEliminarJoaquim, cá estamos para todo o tipo de interacções, as mais e as menos exigentes, desde que venham por bem...
~CC~
Ok:). Não é grave. Mas o meu blog não é incrível, é mais um dos tantos que existem.
ResponderEliminarBoa Semana