terça-feira, 1 de outubro de 2019
Da vida dos objectos
O sofá está velho e manchado.
A máquina de lavar roupa está presa com aquele clip que lá colocaste. O último técnico ditou-lhe sentença grave, preço exorbitante de arranjo. E ela lá continua a funcionar, tem dias, é verdade.
A máquina de lavar loiça só funciona com o programa económico, a baixa temperatura.
Há loiça com os rebordos falhados.
O tapete precisa de ir para a lavandaria, esteve aqui um ano sem ir a banhos.
O carro já foi a uma das lavagens anuais, tenho esperado pela chuva.
Sei que o programa que vi sobre o prolongamento da vida dos objectos me influenciou, mas já vinha de antes, não sei quando começou esta minha reserva. E se eu gosto de coisas novas e lindas. Nunca fui muito consumista nem deslumbrada mas gosto da beleza e estética das coisas. Mas ando à procura de novos equilíbrios. Afinal também eu sou um objecto partido e consertado.
~CC~
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Descubra em si os seus poderes ocultos, o dom da fénix para renascer, descubra que a estrada não acabou, ela só tomou um desvio.
ResponderEliminar“No meio do caminho tinha uma pedra” - todo o caminho tem uma pedra.
Se fosse eu CC, despedia-me desses objectos.
Nem que fosse para desanuviar.
E por falar em despedidas deixe-me dizer-lhe que eu gosto de despedidas, quer sejam no cinema, na literatura ou na música. Não gosto das despedidas em si mesmas, gosto de as ver retratadas pela arte.
Filme ou livro que não tenha uma despedida, desilude.
Nunca esquecerei a sedutora tremura de lábios da Julie Christie e o seu olhar lacrimejante ao despedir-se do Doutor Jivago.
Como ficar indiferente ao Depois do Adeus de Paulo de Carvalho quando canta 'teu lugar a mais, tua ausência em mim, tua paz que perdi, minha dor que aprendi'?
Como não sentir um arrepio quando se lê Miguel Esteves Cardoso dizer que nos uivos das mulheres nas praias da Nazaré não há 'histeria' nem 'ignorância' nem 'fingimento' - há verdade que nós, os modernos, os cools, os armados em livres e independentes, os anestesiados, temos medo de enfrentar.
Como não sentir comoção ao ouvir um quintanista a cantar um fado a despedir-se de Coimbra?
A vida dos objectos conforta-nos, e mudá-los, havendo estima, é ligeiramente penoso. Prolongo-lhes a vida quanto posso. Esfrego, coso, remendo. E tenho pena de não saber fazer melhor, mas é que não sei. No entanto, uma ou outra coisa nova ilumina o lugar que lhe destinamos. Mas não temos com ela senão o apreço do agrado ou da utilidade. Não há nela memórias. E as memórias são o factor de seriação dos objectos que temos.
ResponderEliminarBoa noite, CC.
Se todos procurassem o equilíbrio, o planeta sentir-se-ia menos ferido.
ResponderEliminarMon amour de CC,
ResponderEliminaros tapetes: alguém próximo que tenha uma mangueira e a tu arranja uma vassoura de cerdas fortes e um detergente natural. O resto é mais complicado (eu que o diga...:)*
Joaquim, não tenho grande apego a objectos, despedir-me deles não ia custar-me nada, a não ser um custo chamado "desperdício" e "lixo a mais". Eu já ando a renascer desde a primeira sessão de quimio:).
ResponderEliminarBea, esse é o meu problema, zero jeito para bricolage e afins...que pena que tenho.
Ó menina, que bom tê-la aqui, acredito nisso, e não vale a pena dizermos que agora é que somos isto e aquilo, já éramos (o meu primeiro crachá dos amigos da terra é dos anos 80) mas a consciência aumentou e isso aconteceu porque as coisas estão de facto a piorar e alguns jovens a acordar.
Pois é Alex, ainda adoro uma boa vassoura:)
~CC~