quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Talvez tenha ficado uma pequena ferida



Tenho tendência a pensar que ultrapassei isto sem quase ter ficado com nenhuma marca, nenhuma ferida. Às vezes acho que já me esqueci de quase tudo, ou pelo menos isso não se atravessa no meu quotidiano. Não me vejo, não me encaro como uma pessoa doente ou incapacitada, não obstante ter aquele papelinho.

Mas depois há isto, hoje é a terceira vez. Morrem familiares de amigos e eu não consigo lá ir. Quero a morte a uma distância muito grande de mim, temo aproximar-me. Logo eu que que brinquei em cemitérios e que nunca tive qualquer medo de entrar num. Até os acho lugares de boas histórias.

Hoje o arrepio foi ainda maior, nem conhecia a pessoa, era apenas familiar de um funcionário do lugar onde trabalho. Mas ela já me tinha contado várias vezes e sempre para me dar esperança: a minha mãe teve o mesmo e está viva e bem. Agora já não me poderá soprar tal alento. 

Talvez tenha ficado uma pequena ferida.

~CC~

9 comentários:

  1. Então! Se não fosse essa, seria outra qualquer. A vida de cada um de nós, não é mais que um mapa de pequenas e grandes feridas. Sabe, sendo a morte certa, não há porque pensar nela, já basta que ela pense em nós. Deixemos então com ela a agenda e desejemos que chova e lha molhe todinha :-)
    Cemitérios, sozinha, não entro, ao contrário da maioria, eu, por lá, só encontro inquietude na quietude do lugar. Naaa, só acompanhada e porque o dever me obriga.
    Vamos lá curar a ferida, e deixar a leveza tomar conta das noites e dos dias. O que for soará. Que a sirene esteja avariada.
    Boa noite.

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    1. Isso de ela pensar em nós, esta bem visto! Mas vou-lhe recomendar que pense noutra pessoa, tem a mania de rondar-me mas já deve ter percebido que lhe faço frente:)
      Obrigada Noname.
      ~CC~

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  2. Fica sempre uma pequena ferida, CC. Nada há que nos marque e seja completamente volátil. Com o tempo deixa de sangrar, mas, se passarmos a mão, dói. Suponho que vá doer-lhe sempre um bocadinho. Há tanta gente que se recusa a participar nos rituais de pós morte, e é saudável, e não teve qualquer problema de saúde para além de gripes e doenças infantis... a CC criou uma segunda natureza depois da doença. Há que respeitar.
    Um abracinho e boa noite:)

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    1. Se passarmos a mão dói, é isso mesmo, tão bem dito Bea:)
      Abracinho
      ~CC~

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  3. CC, acabei de deixar um comentário à Bea que de certo modo se aplica à situação. Na realidade transportamos do passado o que de muito bom e de muito mau nos marcou, e esses momentos ficam marcados no nosso espírito com uma clareza cristalina através dos anos e não se perdem jamais. Ficam a fazer parte da nossa pessoa, integra-se no nosso carácter.
    E embora concorde genericamente com o que diz a noname, essas mensagens são sempre difíceis de adequarmos à nossa realidade concreta.
    Um bom dia.

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    1. Não se perdem jamais mas também não devemos matutar neles e andar sempre a trazê-los para o nosso presente, tento fazer isso o mais que posso.
      Dia bom Joaquim, estamos quase no fds:)
      ~CC~

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  4. Tudo o que de mau nos acontece deixa marcas, ~CC~, dores físicas e também dores morais, algumas delas tão profundas, tão dolorosas, sempre prontas a vir ao de cima ao menor sinal de fraqueza da nossa parte.
    Apesar de hoje estar bastante triste e desanimada com a vida, quero deixar-lhe aqui uma espécie de conselho (agora não me ocorre outra palavra, sorry):
    Tente , mas tente mesmo, ir buscar Força às marcas boas que a vida lhe deixou, e que espero tenham sido muitas:))
    Às vezes resulta.

    May the Force be with you!
    🐳

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    1. Querida Maria, hoje apetecia-me ser eu a animá-la, se estivesse por perto, mais que certo que a convidava para um tea:)
      Um abracinho e força!
      ~CC~

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    2. Obrigada querida ~CC~ só com essas palavras já me sinto melhor :))
      Vou agora fazer um chá de perpétuas roxas; um destes dias temos que perguntar ao HV se ele já experimentou.
      Abracinho!
      🌲

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