Sabes que te escolheria sempre em primeiro lugar, depois deste em que vivo? Mais, às vezes, acho que seria capaz de trocar esta minha língua por esse teu modo cantado de falar, esse rumor que nos conta histórias se encostarmos o ouvido às pedras, essas telas, essas estátuas, essas pracetas pequeninas, essas ruas cobertas de lambretas de todas as cores, esses olhos que se colocam em nós, escuros e matreiros como nenhuns outros. Parece que há quem ame Paris acima de todas as coisas, cidade à qual sou indiferente, eu amo todas as cidades, todas as vilas, todos os campos do norte de Itália. E era capaz de amar igualmente o Sul pois já o amo pelos livros.
Florença é mesmo o único sítio em que me emocionei com uma missa, em que desejei fazer coisas patetas como colocar um cadeado numa ponte, onde comi gelados em pleno frio de janeiro. Itália, amore mio, resiste, estamos à espera de voltar.
~CC~
Que declaração tão bonita a Itália, CC.
ResponderEliminarNa verdade também não me importaria de viver por lá. E, ao invés da CC, penso que gostarei menos do sul que do norte. Não me comovi em missa alguma (também não a ouvi), não comi gelados em Janeiro, entrei em mil igrejas e quase sempre me esqueci que eram lugares de culto, amei o canto gregoriano de S. Miniatto que já nem sei como se escreve, e a minha alma ajoelhou em S. Marcus, à vista das ilhas, num entardecer glorioso, as gondolas ali ao rés. Dei a volta ao lago di Garda, extasiei num lago interior de que nem lembro o nome.
Talvez não volte, não preciso voltar. Mas é necessário que outros olhos vejam o que vi, palpem a beleza antiga e desvaneçam, se percam por ruas e museus, que tudo vale a pena.
E por isso é um cerrar de portas temporário. Itália não morre, são os homens que perecem. E não apenas os italianos.
Há que ter esperança.
Que bonito o que escreveu Bea, há que ter esperança...
Eliminar~CC~
O seu belo texto e o não menos belo comentário da Bea, fizeram-me viajar, sem eu mesmo saber o porquê.
ResponderEliminarUma, o excelente poema de Vinícius de Moraes:
"Tem dias que eu fico pensando na vida
E sinceramente não vejo saída
Como é por exemplo que dá pra entender
A gente mal nasce e começa a morrer
Depois da chegada vem sempre a partida
Porque não há nada sem separação
Sei lá, sei lá
A vida é uma grande ilusão
Sei lá, Sei lá
A vida tem sempre razão
A gente nem sabe que males se apronta
Fazendo de conta, fingindo esquecer
Que nada renasce antes que se acabe
E o sol que desponta tem que anoitecer
De nada adianta ficar-se de fora
A hora do sim é o descuido do não
Sei lá, sei lá
Só sei que é preciso paixão
Sei lá, sei lá"
Duas, Torga sobre a língua italiana diz: "...numa terra onde a palavra era como que um segundo pão da boca. Até essa descoberta acabava de fazer: que, falar, ali, como acontecia no Brasil, além de ser uma forma de comunicação, constituía também um prazer humano, uma espécie de sensualidade articulada...".
Achei interessante, mas gostaria de tirar a limpo. Como?
Então, fechei os olhos e tentei imaginar uma inglesa a falar, depois uma espanhola, a seguir uma francesa e assim por diante, e tenho de reconhecer que as italianas e as brasileiras ganharam o concurso...
O Joaquim tem muita piada, pois mistura beleza literária com uma dose de malandrice com essa da pronúncia das brasileiras e italianas, mas concordo consigo, se não quanto aos brasileiros, quanto aos italianos. Se voltasse cá, noutra vida, não desdenharia namorar um.
ResponderEliminar~CC~