domingo, 22 de outubro de 2023

Manhã de Domingo

 


Estranho a longa fila à entrada do café num domingo de manhã. Haverá assim tantos cafés fechados? 

Afinal é a fila do jogo, ou melhor, das raspadinhas. Pessoas de todos os géneros e idades, predomínio de mulheres que já passaram da meia idade. Compram uma e raspam e depois voltam. Uma das senhoras totalizou dez euros em raspadinhas de 2 euros, ou seja, voltou e voltou. Curioso é que este não é um jogo de grupo, são apostadores solitários, eles e os cartões que raspam e raspam.

Que sonhos alimentam? Que ilusões lhes venderam? O que lhes falta? 

Qualquer coisa neles é muito mais triste que a minha tristeza que, se comparada, até parece alegria.

~CC~


5 comentários:

  1. Parece-me que essas mulheres de meia idade são umas desiludidas da vida. Com as raspadinhas e enquanto as raspam, criam um raiozinho de esperança, se ganharem, talvez consigam mudar a vida, insuflá-la. E depois saem decididas e atiram-se ao quotidiano. No dia seguinte ou no outro, voltam de novo. Há quem vá à igreja, quem faça fila nos cinemas, quem vá aos museus, quem leia. Não sendo a mesma coisa, todas são tentativas para ficar mais feliz. Elas fazem o caminho que sabem. A muitas ninguém ensinou outro; outras palpitam que só o poder económico lhes permitirá o que desejam. Mas tudo o que sugeri pode ser mera suspeita sem fundamento.
    A sua mãe não ia querer que ficasse assim triste, CC. Pelo menos foi o que pensei quando perdi a minha. Com resultados nulos, diga-se. As mães nunca nos abandonam (ou seremos nós que as não abandonamos?).
    Um beijinho doce

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    1. Percebo o que diz mas julgo haver uma fronteira, talvez ténue, entre o que distrai e o que vicia, entre o que nos dá prazer mas não nos causa adição ou aquilo que o faz. E há sempre alguém a ganhar muito dinheiro com o vício alheio...

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    2. E obrigada pelo beijinho doce, que bem soube:)

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  2. Eu vou ao cinema ou ao futebol para me distrair. Leio também por lazer e para aprender e abrir horizontes. Vou à igreja raramente mas quando vou, procuro paz e tranquilidade de espírito. Também gosto de estar perante uma paisagem, de preferência com água.
    Tudo isto me dá prazer e ao dar-me prazer, segundo os marxistas é uma alienação.
    Alienação de quê? Dos verdadeiros problemas da vida? Seja. Mas a vida não tem de ser somente dor, né?
    Penso que as raspadinhas, como qualquer jogo a dinheiro, é um misto de vício e necessidade e o problema é ganhar-se uma vez e vejo que quem mais joga é quem mais precisa, daí haver um debate agora se não seria melhor acabar com elas.

    Mais um dia CC, mais uns passinhos em frente. Um abraço.

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    1. Eu não sei se é preciso acabar com elas ou com aquilo que torna as pessoas dependentes delas...há muita miséria ali...e não só, também solidão, por mais estranho que pareça.
      Obrigada pela força e pelo abraço.

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