quarta-feira, 8 de abril de 2015

Apanhar as laranjas e os limões


Outra vez o telefone a tocar. O susto a aterrar nos nossos corações. O luto nem quinze dias tinha, como era possível querer voltar assim. 62 anos de casamento é uma vida, mas não seria preciso segui-lo para lhe provar o quanto gostava dele, bastavam os suspiros que lhe ouvíamos a toda a hora, um não saber onde estar, o que fazer, que rumo seguir. Vi-lhe bem as marcas de desorientação sob a resignação aprendida, o estou bem dito para descansar os outros.

Era morte a mais a rondar-nos. Felizmente ao longo da semana as coisas foram melhorando e a vida foi ganhando pouco a pouco. Este tempo foi sobretudo isso, fazer companhia a alguém só, mais só. Se eu sinto o quintal vazio, a casa silenciosa, imagino o que sentirá ela. É preciso continuar a apanhar as laranjas e os limões, não deixar que apodreçam no chão, fazer com que a vida vingue.

~CC~

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