Os dias correm mesmo muito velozes, iguais a Abril, estão cheios de flores e são riscados por nuvens negras.
Em Abril e Maio deixamos a sala de aula para trás e trabalhamos num espaço comunitário, neste caso num Moinho de Maré. Hoje recebemos um grupo +65.
Como é fácil para eles meter as mãos na massa e fazer o pão. A cada punhado de farinha soltam-se as memórias de um tempo em que se fazia para durar para oito dias. Há quem seja neta de um moleiro, quem tenha passado a infância num moinho de vento, quem diga com facilidade a palavra maquia contrastando em absoluto com a dificuldade que os alunos tiveram em compreender o que significava. Transacções sem dinheiro, às vezes sem que estivessem sequer contratualizadas, confiava-se que o outro saberia dar o mais justo.
No final da actividade também partilhámos o pão quente enquanto se fazia a avaliação, sentados em redor da mesa grande, alunos adultos e professores adultos olhos nos olhos num espaço informal. Nunca senti tanto respeito entre nós como neste momento, em que ao mesmo tempo que partilhávamos um lanche, cada um tomava a palavra e os outros ouviam sem se atropelar. Tão diferentes estão daqueles que conheci em Outubro, mais ou menos indiferentes a tudo, hiper focados no seu telemóvel, as aulas tão fora da sua vida que custava acreditar que soubessem minimamente o que estavam a fazer.
Cada dia que passa acredito mais numa escola de projecto, em que a aprendizagem é situada e nos entra por todos os sentidos. Tenho felizmente alguns espaços em que isto se torna uma verdade, se torna possível. Pequenas flores garridas, papoilas certamente.
Estava tão feliz no final do dia que nem dei pela dor de garganta que chegou de mansinho e se tornou mais e mais forte com a chegada da noite. Depois de escapar um Inverno inteiro, parece ser Abril que me traz arrepios e estes não são dos bons. Devia ter perguntado a um dos nossos convidados, de certeza que teriam um chá, uma mézinha, um caldo, quem sabe apenas uma palavra doce.
~CC~
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