domingo, 5 de novembro de 2017

Só por elas



Às vezes, a meio da noite, nos dias que passamos juntos, estamos nesse limbo entre o acordados e o adormecidos. Nisso somos muito semelhantes, raramente dormimos a noite toda, sem ou com sobressalto, acordamos muitas vezes. Ultimamente ele chega-se a mim e faz-me festas no cabelo, no rosto, no pescoço, usando muita ternura nas pontas dos dedos. É um aconchego, uma balada silenciosa para eu voltar a dormir, uma presença que se faz sentir com um toque sereno. O que nós já mudámos desde que nos conhecemos e como mudou o amor que nos temos. Ele não sabe, não ficará a saber, mas era capaz de permanecer com ele só por essas carícias com que serena a minha inquietude nocturna.

Também gosto dos pequenos trabalhos domésticos que faz, inventando o que não sabe e descobrindo o que quer saber. Com um simples elástico de cabelo arranjou a minha máquina de lavar, poupando-me um dinheirão. Uma vez que nos zangámos, a máquina avariou e paguei em arranjos para lá de 150 euros. Tenho a certeza que foi um pacto entre eles para provar a falta que ele me fazia. 

E agora inventou aquele tocar doce para eu saber que gosto dele, para me lembrar disso quando acordo a cada manhã, amordaçando qualquer protesto que se insinue em mim por ele gostar tanto de sofás.

~CC~












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