Foi em 2007 ou talvez em 2008, o boletim internacional de vacinas situa-o em 2007, eu é que pensava ter sido depois. Lembro-me de sentir muito o teu amor, dele estar muito presente, de me acompanhar. Ainda não nos tínhamos separado nenhuma vez, nem por vontade, nem por obrigação.
Voltava a Angola, lugar em que nasci, pela primeira vez. A emoção era enorme, vejo agora como era intensa. Nunca esquecerei a primeira imagem da terra vermelha, com o vento a levantá-la e o pó a cobrir-nos. Sim, era a terra onde nascera. Foi também nessa viagem e por causa dela que deixei de lhe chamar a minha terra. Mas isso seria certamente outra história para contar. Ia em trabalho por cerca de 15 dias. No último dia, antes da volta, adoeci gravemente e fiquei lá internada por quase uma semana. Poupo os detalhes de quem viu nessa altura a morte a rondar. Foi a primeira vez que passei os anos numa cama de hospital. Era Setembro, agora também é Setembro.
Dentro de poucos dias irei novamente em trabalho a Angola. Depois dessa vez enfrentei novamente duas situações de muito perigo, um acidente de viação e a doença, esse maldito bicho chamado cancro, nome que a minha filha me diz que devo evitar por não ser científico (displasia é o nome correcto, as coisas que aprendemos). Deixou marcas, não apenas as cicatrizes mas uma dieta para sempre, o perigo de me engasgar e vomitar. E o fantasma eterno do seu regresso.
Por tudo isto toda a gente me diz para não ir a Angola. A família abana a cabeça e profere o termo loucura. Os meus médicos são mais cautelosos e encorajam-me, dizem que devo procurar uma vida normal. Dantes esta era a minha vida normal, não é coisa que tenha iniciado agora, teria que ser algo que eu abandonaria.
Se tenho medo? Sim, muito medo. E é por causa dele que vou. Não se pode deixar que seja o medo a ganhar a batalha. Vou para lhe fazer frente. Vou pela mesma razão que peguei no carro e voltei a conduzir a seguir ao acidente de viação. Vou porque se o medo me vencer, isso será também um modo de morrer, lentamente e em vida.
~CC~
Mulher forte. Corajosa.
ResponderEliminarEu não sou assim. O medo ganha-me muitas vezes.
Vai, porque é uma lutadora e corajosa. Aposto que corre tudo bem.
ResponderEliminarUm beijinho, CC.
Linda CC, LINDA, na tomada de decisão! Vou acompanhar-te em silêncio, nessa viagem, zelar por ti, je te le jure :*
ResponderEliminarObrigada, muito obrigada às três pelo cuidado e pela força (e por compreenderem).
ResponderEliminar~CC~
É Setembro, tal como era Setembro naquela altura, e correu tudo bem!
ResponderEliminarParabéns, CC!
Isabel, é uma sensação tão boa a de vencer o medo. Quando se quer, claro.
ResponderEliminar~CC~