domingo, 16 de setembro de 2018

Reconciliação




Obrigada
Nada por isso.

Como é mano, estamos juntos?
Estamos juntos!

A primeira expressão usavam-na connosco, com um tom cortês, quase cerimonioso. A segunda correspondia a um sorriso mais aberto, usavam-na entre eles. Apetecia-me dizer aquilo assim também, daquela forma cantada, tão bonita. Também queria estar naquele estamos juntos. E estive um bocadinho, dia a dia mais. 

Estou de volta mas ainda estou a voltar. O tempo é mesmo relativo, foi tão pouco e pareceu tanto. Deve ser porque cruzar o equador muda tudo, os horizontes, o hemisfério que mais usamos, as palavras que sendo as mesmas têm outros sentidos. 

Um dia metade do grupo de formandos trouxe roupa amarela vestida, não tinham combinado, mas acertaram na minha cor favorita embora não a use. Fotografei-os assim de amarelo e a sorrir. Fotografei mais coisas, coisas que ficaram a doer cá dentro como as memórias da guerra civil que lhes levou pais, irmãos e irmãs mais velhos.

O muro que nos guardava era também um muro que nos agredia, alto, de arame farpado, o guarda à porta, a necessidade de avisar cada saída, de avaliar se seria ou não segura. Nós não sabemos como é.  Para não lhe chamar prisão, chamava-lhe um internato. 

Talvez não tenha sido apenas para vencer o medo, talvez uma parte de mim necessitasse de reconciliação. De os ouvir chamar-me pelo meu verdadeiro nome e sentir-me outra vez a menina que fazia bolas de sabão com as canas do mamão.

~CC~



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