Quem canta?! Quem me trazia um samba ao pequeno almoço?! Era do prédio em frente. Trabalharam o sábado inteiro na pintura do prédio, empoleirados naqueles andaimes de segurança duvidosa, cobertos pela rede verde que os disfarça no seu interior.
São todos brasileiros, tal como as senhoras que me atendem no café do lado, as que foram cuidadoras da minha mãe e as que agora são cuidadoras da minha amiga. Que seria deste país sem eles, será que aqueles que os querem expulsar estão prontos para ocupar os seus lugares? Quererão, como aqueles que chegam do sudoeste asiático, ir para os campos de madrugada apanhar o tomate e os morangos, regressando também já de noite? Quererão mudar as fraldas das pessoas idosas, dar-lhes comer à boca e mal dormir de noite? Estes e outros trabalhos que exigem esforço, paciência, horários incómodos.
Em cada brasileiro que oiço pela manhã no seu samba corrido, oiço também um fado cantado por um português que algures no mundo abriu uma padaria.
~CC~
Concordo, cada um de nós é estrangeiro em alguma parte do mundo, misturar-nos é o destino que cabe a cada um de nós.
ResponderEliminarMistura é um termo tão bom ZMB!
EliminarBrilhantes estas crónicas, pela forma e pelo tema.
ResponderEliminarUm abraço.
Abraço e obrigada
EliminarA diversidade ensina a convivência. Mas, para além disso, não consigo deixar de pensar nas semelhanças com o tempo da escravatura, os escravos a fazerem o trabalho que os portugueses e o resto do mundo consideravam reles. E não sei se muitos deles não serão os escravos modernos. Trabalhar de sol a sol (como afirma a CC) é exploração. Por outro lado há muito português a trabalhar as 8h fora, e longe, da sua residência e que perfazem fora de casa umas doze horas. Além disso, venham de onde vierem, num país pobre e pequeno como o nosso, não cabem todos. E isto não é racismo, mas o reconhecimento da nossa falta de capacidade para acolher e dar trabalho a tanta gente. Até por haver diversidade, mas pouca mistura. Os portugueses estão a tornar-se ociosos e mais gananciosos. A maioria sente-se superior aos que chegam de mãos a abanar. Mas também existe o lado abastado que vem ao melhor que temos e faz disparar preços. Toda a medalha tem seu reverso. Como tanta coisa em Portugal, a política de emigração está mal orientada.
ResponderEliminarCertamente complexo Bea, não o podemos ignorar. Para nós podemos ser "pobres e pequenos" mas para outros somos Europa, ou seja poder e riqueza. A As políticas começam nos princípios e esses, quanto a mim, devem ser o de não rejeitar, o de compreender, o de procurar integrar. O resto deve ser organização, controlo, apoio.
EliminarEssa é que é essa! Somos um país que "não faz, nem quer deixar fazer"...
ResponderEliminarBeijinhos
Ora aí está uma frase que senti muitas vezes, mesmo na vida profissional. Beijinhos
EliminarSomos um país de emigrantes pelos 4 cantos do mundo (nunca entendi, afinal o mundo não é redondo? :) ) mas, como ia dizendo, estamos espalhados, esbardalhados por esse mundão e, nem assim, sabemos respeitar os emigrantes, e
ResponderEliminarisso, é algo que me aflige, porque me leva a finais de 75 e como receberam os vindos das ex-colónias, como eu. Gente estranha que somos e tão pouco aprendemos.
E eu, também uma "retornada", embora eu não retornasse pois não tinha cá nascido e retorno é voltar ao lugar onde se nasceu ou ao qual se sente pertencer.
Eliminar