Este é um festival que pouco tenho frequentado, não obstante ser na minha cidade. Mas desta vez fui.
Todos os filmes tinham a marca de vistoria da censura do Estado Novo e designavam-se como do Ministério da Propaganda. Os dois últimos não era narrados, não tinham som, tinham separadores com legendas, muito à imagem do cinema mudo. O que achei fabuloso era que as palavras continham uma mensagem associada ao regime, em que se enalteciam as qualidades do povo trabalhador e feliz e as imagens mostravam gente gasta, cansada, com roupas entrapadas e esquálida. É impressionante a degradação das casas, dos monumentos, das ruas, tudo mais cru e duro no preto e branco.
O último filme termina com uma mensagem sobre o bucolismo da paisagem mas o que vemos é uma velhota a sair de um casinhoto e avançar para a câmara que a vai enquadrando, terminando num zoom sobre os seus sapatos, mas estes nem são bem sapatos, são meio chinelos, estão rotos e nem sequer são um par. Ao contrário do que se vê hoje, imagens manipuladas a torto e a direito, ali são as imagens que não mentem. As palavras, essas tudo querem encobrir sem conseguir.
A música do Pedro Caldeira Cabral ajudou a ver tudo melhor.
~CC~
E ainda há quem apoie quem quer que volte algo parecido com o passado.
ResponderEliminarOu eram dos privilegiados...ou não sabem/não querem sabem como era realmente.
EliminarSinto imensa pena dos que viveram durante esse tempo medíocre e salazarento. Do tanto que sofreram os de sempre. E julgo-me cheia de sorte por ter vivido o 25 de Abril na juventude e assistido a um Portugal que não imaginava possível. Que não sei mesmo se a história será capaz de repetir algum dia.
ResponderEliminarNão há como os humanos para nos desiludirem.
Boa noite, CC.
Sem dúvida Bea...boa noite e um abraço
EliminarMuito obrigada por este texto, CCF.
ResponderEliminarUma forma de não esquecer o que a História
raramente conta.
Abraço.
Olinda
Eu é que agradeço Olinda, um abraço.
Eliminar