A noite tornou-se muito fria assim que o sol mergulhou na planície.
Uma casa antiga onde antes os trabalhadores da mina de S.Domingos se reuniam para as horas de lazer, está agora repleta de fotografias, lá estão as moças no piquenique, os homens à volta do jogo de cartas e mais que tudo, o canto, o cante. São inúmeras as imagens dos grupos de homens que olham sem um sorriso para a fotografia, tão compenetrados da função.
Estamos ali como quase os únicos forasteiros no meio do povo da vila que sabe cantar, o palco não é apenas o palco, é um um lugar inteiro de memória colectiva. Canta-se deste e do outro lado até que no final ficarei com os olhos molhados.
E desta vez não são os velhos que cantam, no palco a média de idades não vai além dos vinte e tal. São os moços da viola campaniça, quem deu à arte toda uma vida para fazer surgir do que morria uma vida nova. Cada canção é também uma história do lugar, dizem-se os nomes dos pastores, dos cantadores, dos lugares, das feiras.
A sala foi aquecendo lentamente entre as palmas, os sorrisos, a minha emoção. Muitas vezes me perguntei o que era a comunidade, raramente a senti como aqui.
É nestes lugares que me comovo e me sinto viva, estar aqui é para mim mais valioso do que estar no CCB, no coliseu ou em qualquer lugar em que arte é espectáculo. Aqui a arte é terra e sangue e cheiro de estevas.
~CC~
"Subi ao céu e sentei-me
ResponderEliminarde uma nuvem fiz encosto
dei um bejo numa estrela
julgando ser em teu rosto"
E anda o cante a crescer nas escolas, também
http://www.youtube.com/watch?v=ufhAKLqlVv0
JJ