Hoje ela não estava e por isso quando cheguei sem chave, não tive companhia até à porta do gabinete, apenas uma mão estendida, fria, com uma chave. A gentileza pode combinar com o profissionalismo, num jeito tímido e reservado como é o dela. Tem nome de anjo e é assim que é, alguém que nos guarda sem darmos conta, conhece-nos a voz ao telefone e sabe sempre onde está cada turma, quase cada aluno de cada turma. Faz milagres para nos arranjar salas mesmo quando estão todas ocupadas, anota os recados do exterior e recebe os convidados, mantendo-os ali à sua beira até nós chegarmos. Faz-me muito lembrar as minhas alunas, mulheres feitas da Educação de adultos, um motor cândido de vontade, um sopro quente de luz, um calor que acontece sem darmos conta. Jamais lhe poderia dizer estas palavras, ela acharia que eu tinha enlouquecido. Arranjo outros modos de dizer que gosto dela, conversando sobre o tempo, a comida do refeitório, os jornais que se esgotaram cedo demais, nunca nada muito íntimo, apenas um sorriso colocado nas palavras triviais. Espero que saiba que gosto dela.
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