No pátio onde já brincaram meninos, há duas palmeiras tristes comidas pelo escaravelho e um pátio onde mora uma coruja. No cimo da aldeia, como se tudo pudesse contar de tantas vidas passadas, a escola velha procura nova vida, abrigando bicicletas e coletes para os caiaques. Não será o mesmo, a saudade parece escorrer nas paredes. Olhamos para o pátio, imagino música ali ao fim da tarde, um acampamento de miúdos, até uma feirinha de chás e ervas. Há séculos que não via abelhas redondidas, só tinha memória de vespas, hoje pela janela aberta entraram duas que ficaram paradas nos vidros, meio tontas. Carro parado, janelas abertas, abelhas fora, que lindinhas, nem tive medo.
Foram 500 quilómetros percorridos a escrever paisagens nos olhos, país tão lindo este, de repente em vez de sobreiros uma mata de pinheiros em pleno Alentejo, reservas de água, rios grandes e outros mais pequenos, tantas casas brancas. Paro na bomba da aldeia, todos os olhares se voltam quando uma mulher desconhecida sozinha anda por ali, curiosamente a gasolineira é uma mulher.
Os miúdos perdidos que ninguém quer, inventam-lhes letras, agora PIEF, amanhã outra coisa qualquer. Estão na escola como peixes fora de água, único interesse é ser o sítio onde se podem ver as raparigas. Espectadora destes mundos outros que me entram pelo coração, tenho receio de não aguentar tanta informação captada assim com esta emoção que a Primavera costuma trazer. Emociono-me estupidamente com a vida.
~CC~
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