segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Advento (II)

 

Tinha uma grande mochila às costas, podia ser um sem abrigo, um viajante, um caminhante. 

Eu vinha a descer as escadas do castelo e ele ia a subi-las. Fazia-o com muito mais ligeireza que eu, pois teria talvez metade da minha idade. O nosso olhar parou no mesmo obstáculo, uma folhas secas de palmeira completamente abandonadas ali há muito tempo, mas ainda muito bonitas. Tanto eu como ele poderíamos ter saltado por cima delas ou simplesmente contorná-las e seguir caminho. Mas antes que eu o fizesse, ele parou deslumbrado a vê-las. Depois carregou duas a duas encosta abaixo, depois voltou para buscar as outras duas. Eu encostei-me ao muro como se não fosse seguir adiante, só para assistir. 

Não percebi para onde as levou, talvez para um canto, um quintal, uma casa.  Só sei que parecia Jesus. Só porque eu imagino que Jesus, além de ter barbas, era alguém que se deslumbrava com coisas que nada valiam. 

~CC~

2 comentários:

  1. Penso que Jesus se deslumbrava (caso o deslumbre fizesse parte dEle) com as coisas simples. Não tenho memória de ter parado a olhar a magnificência de palácios, templos ou arreios de cavalos. Em lugar nenhum o lemos a louvar exércitos terrenos; os milagres que fez tinham os pobres e os mendigos por objecto. Interessavam-lhe os homens, as avezinhas, as crianças, os campos de boa semente. Toda a sua vida foi de semeador. Assistir a um Cristo que carrega folhas de palmeira, é benesse, mas aporta responsabilidade:).

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    1. Acho que era ele Bea...seja então benesse e responsabilidade.

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