Superar o vazio causado por todas as partidas, sobretudo a dela, levada pela morte. Quero que mais ninguém que me é essencial desapareça deste mundo. Mas não só os meus. Sim, quero usar essa palavra funda e negra que a todo o momento assombra os dias de quem mora dentro de guerras que não pediu nem desejou, juntas essas palavras guerra e morte tornam-se ainda mais pesadas e insuportáveis. Milito intimamente para que no novo ano elas desapareçam do horizonte e não assumam a banalidade do mal no diário que as notícias emitem, necessitava de uma militância mais pública em lugar que ainda não encontro.
Superar o corpo e o que nele avança não rumo à velhice que é o que naturalmente o cobrirá, mas à doença que é o fantasma que o assombra. Possa a máquina não ter que disparar sobre ele anualmente três visões do seu interior para escrutínio médico, lançando dúvidas e hipóteses que ficam a marinar sombras nos dias e se condensam em noites mal dormidas.
Superar o medo de todos os abraços que possam ser voos quentes sobre a pele e desenhar presentes e futuros com a cor pantone do ano. Estão ainda em dívida abraços do ano anterior e não posso passar mais tempo sem os concretizar. Poder, quem sabe, até abraçar quem sendo família não conheço nem nunca conheci e está lá longe, do outro lado do Atlântico.
Superar o desenraizamento que ameaça fazer ruir todos os meus laços com as lugares e as pessoas, ser sempre eu mesma o suporte que permite o encontro, a bonança, o perdão e o riso. Fazer deste estuário o meu porto e dele sair rumo ao mundo.
Superar-me, desafiar-me, desconfortar-me, ir. Deitar-me num campo de tremocilha e respirar todas as estrelas a céu aberto.
~CC~
Que planos mais bonitos e impossíveis de realizar, em cada um cabe um mundo, CC. Desejo que realize alguns; ou todos, mas não em todo o tempo. Que reste tempo livre e acaso, sem objectivos, apenas para fruir a vida. De toda a maneira, eles sempre acontecem. Vamos esperá-los com o sorriso possível.
ResponderEliminarBom Ano 2024, CC.
Em 2024 passe aqui no estuário para um café, chá ou laranjada😊. E obrigada pela sua companhia aqui, sempre atenta. Beijinho
EliminarGuerra e morte, ainda que andem juntas, não são irmãs, são antes, parentes próximos por afinidade da ganância de uns poucos.
ResponderEliminarA morte, enquanto finitude, é a única coisa certa que temos, embora não a saibamos aceitar, porque ela nos rouba sempre alguém que amamos mas, cabe-nos a nós honrá-los, mantendo-os vivos nos nossos corações. O tempo ensinou-me isso a duras penas.
Um beijinho daqui até aí, e o desejo sincero de um novo ano, com muitas alegrias e saúde.
Um beijinho para essa latitude e obrigada por vir. Bom ano!
EliminarBelo.
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