Aos quinze anos comecei a trabalhar durante as férias (na altura "grandes") num restaurante. O patrão pagou-me um mês em dinheiro pois no mês a seguir saí de lá para outro trabalho numa roulotte de praia. Nesse mês experimentei o assédio dos clientes e o ainda mais sistemático o do filho do patrão. Tudo se dizia a uma miúda de quinze anos sem posses, era presa fácil. Outras começaram muito mais cedo que eu e foram sujeitas a muito pior, sem opção. Na roulotte já era quase dona do meu tempo e do que fazia e já tinha aprendido a fazer cara feia aos clientes mais inadequados.
Nunca mais deixei de trabalhar desde essa altura, acumulando com os estudos, primeiro naquilo que agora se designa de trabalho parcial, depois no precário e por fim com contrato de trabalho, ainda assim durante muitos anos a termo certo (anual). Sobre assédio e pressão no mundo laboral vi muitas coisas e sob várias formatos e batalhei para não me tornar vítima e muito menos agressora, mas não é fácil. Ao mesmo tempo fui fazendo coisas que me deixavam grata e feliz.
Passamos metade da nossa vida no trabalho e para muitos de nós é uma metade muito dolorosa, seja pelas condições de trabalho, seja pelo vazio que não preenche, seja pela falta de identificação. Quase tudo no mundo do trabalho necessitava de uma revisão profunda. Para já começaria por diminuir o tempo que lá passamos e por mudar para a reforma gradual, em vez de abrupta, quando a saúde já não dá a muitos de nós grandes tréguas.
Este ano tenho em particular no meu coração as seis jovens Nepalesas que entrevistei numa zona rural e recôndita deste país e que trabalhavam num lar de idosos, a sua dignidade, o seu sorriso e a forma como responderam quando lhes perguntei como comunicavam com os idosos e elas usaram a mímica para representar como o faziam.
~CC~
Os do governo já andam a falar com as confederações de exploradores para mexerem nas leis do trabalho.
ResponderEliminarMas afinal o nosso povinho ao votar neste direitinhas julgavam o quê?
Um abraço.
Confederações de exploradores:) Hoje está com sentido de humor...um abraço!
EliminarParece-me que no trabalho nunca fui assediada. Fui feliz no plano laboral. Tive problemas no final da carreira o que me levou a abreviá-la, mas não com a essência da profissão. Lamento e admiro profundamente quem apenas cumpre para sobreviver, quem, como as seis nepalesas, fica grato apenas por ter um trabalho - os nepaleses são os emigrantes mais educados e trabalhadores de entre todos os que por cá trabalham. Discordo da forma como o estado português trabalha quando a este aspecto. E receio, sinceramente, o novo estado de preguiça em que andamos todos a colaborar, dando o que não queremos fazer aos emigrantes. Lembra-me, mal comparado, pois sei que eles beneficiam de segurança social,(talvez nem todos) o tempo em que os portugueses se julgavam ricos e todo o trabalho era feito por mão escrava. Deu o mau resultado que se viu: voltaram os sonhos de grandeza, sem a força verdadeira, amolecida pela ilusão de riqueza fácil que prestes esvaiu. Mas agora somos pobres que nos consideramos ricos à vista dos que são mais pobres que nós. E ainda há desvairados que se aproveitam deles e da sua condição.
ResponderEliminarBom feriado, CC.
Olá Bea, bom retrato, não obstante a complexidade da questão. Um abraço e bom resto de semana.
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