Arrastava um fardo de feno às costas e um cajado na outra, subindo lentamente a rua inclinada, a bem dizer a única que subindo e descendo passa lugares justapostos, só diferenciáveis pela placa toponímica. Não irá por certo à Casa das Artes na sede do concelho que exibe uma exposição fotográfica sobre uma ilha de Cabo Verde nem ver a exposição sobre o humor na casa brasonada. Provavelmente, de quando em quando irá ao mercado lá abaixo ou a uma consulta no centro de saúde e pouco mais. Agradeço-lhe em silêncio não ter partido, quando aqui estamos percebemos muito melhor o que é um país que se aglomerou junto ao mar. Quase não vemos ninguém, parece haver apenas uma meia dúzia a juntar-se no único café-taberna num raio de muitos quilómetros. Há uma família que já corta lenha para o Inverno e a amontoa na frente da casa, imagino que daqui a pouco não poderá haver noites sem a lareira acesa, já que a humidade se faz já sentir ao cair de uma tarde de fim de Verão.
Naquele lado da serra não há aldeias idílicas como as que veremos depois com a placa identificativa da rede das aldeias de xisto, são apenas casas à beira da estrada, umas mais feias do que outras, a maior parte substituiu o granito ou o xisto pelo cimento, era isso a modernidade e a comodidade, contudo, esses materiais mostram a sua erosão e falta de adaptação às condições locais. De quanto em quando uma casa sobressai pela sua monumentalidade e cor e adivinhamos que atrás dela estão portugueses que foram para a França ou para os Estados Unidos. São também eles que vemos nas praias fluviais, grandes famílias que Agosto continua a juntar para matarem juntos a palavra saudade.
Apesar da moda do doce da terra se ter disseminado por todo o território (segundo a senhora da padaria foram eles a inventá-lo há meia dúzia de anos pois não havia nada que as pessoas pudessem levar...), é junto à arca de gelados que se mata a fome de açúcar e de mundo. Afinal um corneto é igual em qualquer parte deste país, com ele vem a ilusão de que somos todos iguais, embora a única coisa realmente comum seja esse torpor de Agosto embrulhado em desejo de escape e felicidade.
~CC~
Com um fardo de feno às costas e a subir uma rua, só podia ir ao curral do gado ou ao lugar onde guarda o feno, CC. Se for à moda antiga, é na loja que tal acontece. OU seria carregador de profissão.
ResponderEliminarGosto das nossas aldeias turísticas, mas poucas têm gente, é quase tudo cenário. Chego a perguntar-me se as casas seriam tal como as vemos. A vida humana estraga, polui, usa mas também enfeita e inventa. Uma aldeia sem aldeões a quem serve?!
Os cornetos de morango já não sabem como antes, agora prefiro-lhes os mini double raspberry da magnum
É isso Bea, hei-de voltar a esse tema das aldeias cenário. Quanto a esses geladinhos fiquei curiosa mas suponho que só se comprem no supermercado. Abraço.
EliminarAgosto já lá vai. Urge, agora, enfrentar a realidade do mês que temos pela frente.
ResponderEliminarAbraço amigo.
Juvenal Nunes
Nem sempre o tempo interior bate certo co o tempo real, ainda tenho a alma pendurada em agosto e no tanto que ficou por dizer dele.
EliminarQuerida CC, que post tão mas tão bonito. E tão fiel ao nosso Portugal rural.
ResponderEliminarQuerida Susana, tão contente fiquei com este seu comentário!
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