quarta-feira, 28 de maio de 2025

Não é coisa que faça mal a ninguém...

 

Chamam-nos mocinhas naquele tom açucarado que trouxeram do outro lado do Atlântico. E convencem-nos com facilidade a endireitar as costas, a esticar as pernas e os braços, naquela ilusão de que os nossos corpos podem não ceder totalmente à gravidade. Mas não somos todas quase idosas ou idosos, há pessoas de todas as idades e algumas jovens, fico espantada com a sua opção por não escolherem os mega ginásios mas um pequeníssimo estúdio de Pilates. Dizem-se fisioterapeutas e eu acredito, mesmo sem ver o diploma, são criativas e bem dispostas, uma um pouco mais experiente que a outra. 

Talvez por ser a mais novinha, ela tenha pisado o risco. Até queria ser simpática, elogiou a senhora de meia idade, dizendo-lhe: a senhora tem um corpinho de fazer inveja, que cinturinha! Só que seguidamente: a senhora nunca foi mãe, pois não?! A senhora engasgou-se, respondeu baixinho: sou mãe, mas não biológica. Reparei no cabelo curto, na voz forte, no seu jeito masculino e talvez me engane mas pareceu-me uma orientação sexual predominante para pessoas do mesmo sexo. A pergunta já tinha sido um pouco invasiva, mas naquele caso talvez o tenha sido mais. A mocinha precisa de juntar à destreza física um pouco de psicologia, afinal não é coisa que faça mal a ninguém.

~CC~



7 comentários:

  1. Pois, o 'fazer conversa comercial, circunstancial e de agrado' dá nisto.
    Principalmente quando nos esquecemos do 'todos diferentes, todos iguais'.
    Bonita história

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    1. Esquecemos que o que dizemos tem impacto, não é para nos vigiarmos em permanência e não sermos sinceros que alerto, mas para o cuidado com o outro.

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  2. Salinhas de pilates multiplicam-se por aí, duvido das competências. É como nesta época se multiplicam os milagres para fazer emagrecer. É o verão.

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    1. Desde que não afirmem vender a banha da cobra tudo bem. E estas não a vendem, são bem claras quanto à ineficácia milagrosa.

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  3. Perguntas existem que não têm qualquer segunda intenção. No caso, parece-me que essa mãe não biológica devia aprender a não se envergonhar da condição, ser homossexual não é crime, mas apenas uma diferença que a própria tem de aceitar (isto se for o caso) e que, para o efeito, não tira nem põe. Uma mãe não biológica e homossexual(?) pretende que ninguém o saiba?! Isso é que me parece errado por poder significar a não aceitação de si mesma perante o mundo. Não é possível que o mundo nos aceite quando não nos aceitamos ou nos envergonhamos do que somos. E não tenho a opinião de que a jovem que a interroga/admira ignore, por tal motivo, as noções básicas e comuns da psicologia (diria delicadeza, se fosse o caso). poderei considerá-la ignorante e até imatura se não ajudou a senhora em causa a aceitar e encarar o juízo alheio de frente. Mas como desconhecemos a reacção à resposta da cliente...dou-lhe o benefício da dúvida.
    Bom dia, CC. Hoje já é véspera de sexta:))

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    1. Em geral Bea, acho que nos devemos abster de comentar o corpo dos outros, vi ao longo da vida muita gente a sofrer com isso, a não ser que com a intimidade ou cumplicidade que temos com o outro, isso seja já matéria possível. Eu acho que a senhora a achou intrusiva e eu também achei. Bom fds Bea!

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