Tantas reproduções que já tinha visto do Guernica, tantas. E ali diante do quadro real a dificuldade que tive em estancar as minhas lágrimas. Estava ali tudo, todos os gritos do mundo que me angustiam e enegrecem a beleza dos dias.
E segui pela sala em frente para ficar quieta e muda diante das mulheres que choram. Mulheres que têm fome, mulheres que perderam filhos, mulheres que ficam para trás em tempo de guerra e fazem dos escombros as suas casas. Estavam ali as mulheres de Gaza, as mais meninas, as mais adultas, as mais velhas. E estava também eu e o meu corpo com partes em falta, esse corpo que tapado me parece aceitável e nu me envergonha, estava também ali o meu choro sem lágrimas na cama do hospital, nos amores que morreram, nos amores que não nascem.
E depois vi a minha filha lá ao fundo numa sala, a olhar demoradamente os quadros e senti tanto orgulho nela, quando nos encontrámos no jardim já tinha o rosto limpo e provavelmente até sorria.
Mas as lágrimas, as lágrimas por vezes voltam.
É impossível ficar insensível a tanto sangue e lágrimas.
ResponderEliminarUm abraço
Devia ser sim, mas parece que não...claro que não falo deste post mas da realidade, do que se passa lá fora.
EliminarSó vi Guernica (no primeiro verão que passou em Madrid) após a explicação, ponto a ponto, do crítico e professor de arte Rui Mário Gonçalves. A ele devo a curiosidade e o desejo que me nasceu pelo quadro, devo-lhe algum entendimento do grito amargo que constitui e do sofrimento, revolta e esperança que extravasa.
ResponderEliminarAs mulheres têm uma longa história de amargura que lhes serpenteia o corpo e aflige a alma. Umas mais que outras, sem razão de benefício ou prejuízo. E esta realidade é-me muito mais dolorosa que as mulheres com lágrimas de Picasso.
Quanto a si, CC, ignoro se ficciona ou reproduz, mas sei que temos de nos pacificar com a "farda" que nos coube. As lágrimas, se existem, são alívio, não solucionam. Se algum estímulo as chama, será porque as necessitamos. E é verdade, os filhos são o mais real que damos ao mundo.
"Felizes os que choram porque serão consolados". Foi Cristo a dizê-lo e lá sabia o que significa.
Bom sábado, CC
É dentro de mim que procuro o consolo, às vezes de alguns amigos também. As mulheres com lágrimas de Picasso foram baseadas nas mulheres reais que perderam filhos durante a guerra, a Arte é às vezes um grito. Bom domingo Bea!
Eliminar'Brancas nuvens negras' permite-me citar a sua frase 'É impossível ficar insensível… a textos tão bonitos.
ResponderEliminarQue bom, CC
Obrigada...e sim, que durem os museus!
Eliminarnota 2
ResponderEliminarCC, aqui bem esplanada a descrição simples do que é e para que serve um museu.
“Guernica” não é apenas uma denúncia contra a guerra, mas também uma homenagem às mulheres que, mesmo em meio do sofrimento, permanecem como símbolos de força e esperança. As lágrimas que escorrem de suas faces representam a dor de toda uma geração, mas também a coragem de continuar a lutar por um mundo melhor.
ResponderEliminarNão diria melhor:)
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